terça-feira, 29 de maio de 2007

O rei regressa: Cumpre-se a promessa!

A paixão pelo Vitória é grande! Como não podia deixar de ser, entre os 'atletas do parque', também existem muitos adeptos do clube. Nos momentos em que a subida à 1ª. Liga parecia ser uma miragem e em que poucos acreditavam, alguns crentes mais fervorosos lançaram a ideia de que se o regresso à divisão maior se concretizasse, rumariam do parque das Taipas ao Sameiro - mas a correr!

Gostamos de correr só pelo prazer, mas achamos que uma prova que tivesse três ou quatro atletas, não teria grande piada. Do mesmo modo, pensamos que um campeonato de futebol disputado só por três ou quatro equipas, não teria graça nenhuma. Foi com este espírito que convidamos, todos aqueles que, mesmo não sendo simpatizantes do Vitória e que gostassem de correr, se juntassem a nós numa demonstração do "fair-play" que caracteriza os 'atletas do parque'.

Assim, este domingo pela manhã, apesar do dia estar cinzento e da chuva miudinha não parar de cair, compareceram no parque para a 'peregrinação' vinte atletas. A larga maioria eram vitorianos, mas convém registar a presença de alguns simpatizantes de outros clubes, numa clara alusão que a mensagem passou, ajudando a 'honrar a palavra' e a cumprir a promessa!

Metemos então os pés à estrada, para cumprir os 12 km que ligam as Caldas das Taipas ao santuário do Sameiro, lá fomos num ritmo alegre e bem disposto, montanha acima, brincando mesmo com a chuva que nos acompanhou - promessa molhada, promessa abençoada! Após os primeiros 3 km, começa a subir acentuadamente, para depois ser um pouco mais suave, sem nunca deixar de subir, aumentando o grau de dificuldade à medida que os quilómetros avançam e se fazem sentir nas pernas. As promessas exigem sacrifício, mas estes briosos atletas não são de esmorecer e lá foram chegando cada um ao seu ritmo ao local de destino.

Chegados ao Sameiro, um manto de nevoeiro cobria o santuário tornando-o imperceptível aos olhos de cada um. Noutros tempos todos esperaram por um rei numa manhã de nevoeiro, mas esse tal, de nome Sebastião nunca fez a sua aparição. O 'nosso rei', o Afonso que até é o primeiro de Portugal, surpreendeu-nos por entre a neblina, como que agradecendo a nossa dedicação. Estamos certos que o 'regresso do rei' será coroado de êxito e que também os 'atletas do parque' terão a sua bênção por todas as terras onde correrem. No próximo domingo, estaremos em Matosinhos para correr a meia maratona, amparados pelas nossas pernas e com a graça do rei!

terça-feira, 22 de maio de 2007

Uma corrida com vista para o mar.

Entre Vila do Conde e a Póvoa de Varzim escrevi na minha memória páginas repletas de encanto, desde a infância até à juventude. De criança de colo até ser adolescente, assim que o ano escolar terminava e o Verão chegava, eu e os meus irmãos começávamos a retirar dos gavetões as roupas mais bonitas e frescas, os calções, as toalhas e os bonés para colocar nas malas. Depois andávamos na arrecadação à procura dos brinquedos de praia, a pázinha, o baldinho, as forminhas de peixe e estrela, as raquetes, sem nunca esquecer a colorida bola insuflável. Riscavamos no calendário com muita ansiedade os dias até ao primeiro de Julho. Assim que a data chegava, com a alegria estampada no rosto, lá íamos com a nossa mãe, carregados de bagagens e de sonhos, para a Póvoa. Aí permanecíamos numa casa alugada durante um mês inteiro, regalando-nos de tanta praia, que na época era recomendada pelos médicos para melhorar a saúde dos mais pequenos, através dos banhos de sol e do iodo do oceano Atlântico.

Como tenho belas e felizes recordações desses tempos: - As correrias pelo areal molhado entre os sectores 16 e 20, os banhos nas águas frias do mar, o pão de leite comprado à vendedora ambulante, o aprender a andar de bicicleta no largo do casino. Mais tarde as sessões de cinema no Póvoa-Cine, onde os tiros certeiros saídos da espingarda do John Wayne deslumbravam-me, as peripécias de Bud Spencer & Terence Hill provocavam-me gargalhadas e a doçura da Julie Andrews em "Música no Coração" deixava-me enternecido.

Passados alguns anos, já na juventude, Vila do Conde começou a ser o meu destino de fins-de-semana primaveris e dias de férias de Verão. Aqui dei os primeiros passos na descoberta do amor! Assim, desde o areal da praia das Caxinas, da marginal até à foz do Ave, o pôr do sol, o luar e o doce barulhinho das ondas do mar, foram testemunhas de inúmeros beijos apaixonados que aí partilhei. Recordo-me também de pedalar na bicicleta para a margem esquerda do rio, até à praia da Azurara, que nesse tempo era quase deserta, para namorar voluptuosamente entre as dunas. Vila do Conde é uma cidade envolvente, inspira romantismo e desperta glamour, fui muito feliz nesta linda e simpática terra, a quem com toda a propriedade designam por Princesa do Ave.

Foi a primeira edição deste Grande Prémio com a distância de 10 km, mas espero que seja o início de muitas, apesar da organização ter revelado alguma falta de experiência, a prova mostrou que pode crescer e conquistar o seu espaço no calendário de atletismo. A marginal Vila do Conde - Póvoa de Varzim, tem excelentes condições para a prática da modalidade, com uma fantástica vista sobre o mar como pano de fundo ao longo de toda a corrida. Assim, a prova principal contou com cerca de 500 atletas e a caminhada, que teve como madrinha a consagrada Rosa Mota, reuniu para cima de 1000 pessoas, que deram um colorido muito grande a este acontecimento desportivo, realçando que cada vez existe mais gente a mexer-se e a adoptar a actividade física para melhorar o seu bem-estar. Não posso também deixar de referir o cariz social que este evento teve, pois metade do valor da inscrição revertia a favor da Associação Nacional da Paramiloidose, o que permitiu que todos os participantes pudessem manifestar a sua solidariedade.

A partida foi dada a poucos metros de distância do Forte de S. João Baptista, seguiu para as Caxinas, passando na Igreja da Lapa, depois em frente ao Casino da Póvoa, rumou ao Passeio Alegre, contornando a rotunda junto às piscinas, onde se completaram os 5 km, para posteriormente fazer o percurso inverso até Vila do Conde. Como o trajecto é totalmente plano e o piso é óptimo, não fosse um ligeiro vento, estariam reunidos todos os ingredientes para fazer um grande tempo. Mesmo assim, posso considerar que fiz uma boa corrida, terminei com 36m38s, tendo inclusive feito uma segunda parte da corrida mais rápida que a primeira, o que permitiu melhorar a minha marca pessoal dos 10 km em 10 segundos. Além do mais, tive ainda a surpresa de ser o 5º. classificado na classe de Veteranos 45-50 anos, com direito a um prémio de 10 euros!

No próximo fim-de-semana não há corrida, mas haverá treino especial! O 'regresso do rei', obriga-nos a "honrar a palavra" e como o prometido é devido, no Domingo um grupo de atletas do parque, que espero seja muito numeroso, irá em ritmo de corrida das Caldas das Taipas até ao monte do Sameiro.

terça-feira, 15 de maio de 2007

Meia Maratona de Cortegaça: Entre o mar e a floresta.

As origens da vila de Cortegaça remontam ao século X e o seu nome deriva do latim Corticatia, palavra relacionada com cortiça, ao que se julga devido ao repovoamento das terras de Santa Maria pelos colonos que se fixaram nesta região de Entre-Douro e Vouga, atribuindo-lhe esta designação devido a uma grande quantidade de sobreiros que ali teriam encontrado. Actualmente, não existem muitos sobreiros, mas para compensar e demonstrar que por estas terras, árvore é muito mais que apenas uma palavra, existe um extenso pinheiral que oferece uma tonalidade verde e castanha à paisagem e se a isto lhe juntarmos o azul do mar, com ondas encrespadas que fazem as delícias dos surfistas, estamos perante um belo quadro naturalista.

"Os Falta D'Ar" - Desporto e Cultura e o Clube de Campismo e Caravanismo "Os Nortenhos", organizaram mais uma vez a meia maratona de Cortegaça, que conta já 23 edições e ao longo destes anos foi cativando os atletas do pelotão, ao ponto de hoje ser considerada uma das mais simpáticas corridas que se disputam no Norte e Centro de Portugal.

A partida é dada junto à praia, para logo a seguir entrar na mata, numa estrada florestal com um piso em alcatrão, que na quase totalidade do percurso, se encontra em excelente estado. Sensivelmente, ao quilómetro dez, dá-se a volta, percorrendo depois o caminho inverso e terminando a corrida, na entrada do parque de campismo, que fica mesmo ao lado da praia. Se exceptuarmos o local da partida e chegada, onde existe algum público, ao longo do trajecto vemos apenas e só atletas entregues a si próprios, formando uma corrente humana em movimento. Uns vão no sentido da ida outros já no sentido de regresso, dependendo do maior andamento de cada um em relação aos outros. O trânsito está totalmente cortado, os carros que existem são os indispensáveis à organização e que se resumem a um na frente da corrida, com o habitual cronómetro e à ambulância na retaguarda. Está assim criado um ambiente de silêncio, apenas quebrado pelo melodioso som do esvoaçar da ramagem verde dos pinheiros e pelo batimento dos pés dos atletas no alcatrão negro da estrada. Quando ao quilómetro doze ultrapassei um atleta que envergava uma t-shirt que dizia nas costas: "Atletismo - prazer de correr", a simples frase perante o cenário ganhou uma dimensão de puro gozo!

Atendendo ao facto de apenas terem decorrido vinte e oito dias após ter feito a maratona, era prudente não exigir muito do meu corpo e optar por analisar as minhas reacções ao longo da corrida para descobrir em que fase de recuperação me encontro. Mesmo assim, o objectivo que tinha traçado era concluir a prova dentro de um tempo que rondasse a 1h20m. O objectivo foi alcançado, pois terminei a prova com 1h20m49s, com uma regularidade de andamento ao longo de todos os quilómetros, que me deixou a certeza que a recuperação está a terminar, podendo nas próximas provas estabelecer objectivos um pouco mais exigentes.

No próximo domingo volto a ter o prazer de estar junto ao mar, desta vez para correr os 10 km da marginal Vila do Conde - Póvoa de Varzim.

terça-feira, 8 de maio de 2007

A corrida verdadeiramente popular.


As Festas das Cruzes dão início a um sem número de romarias que se realizam no norte de Portugal até ao final do Verão. Na terra do famoso Galo de Barcelos, por estes dias que passaram, o colorido dos desfiles, a música e os tradicionais fogos de artifício alegraram a gente desta região do coração do Minho. Uma pequena freguesia vizinha da cidade, Galegos São Martinho, terra de artesãos e oleiros, associou-se à festa promovendo o atletismo para miúdos e graúdos. Todas as corridas onde os mais pequenos têm as suas mini-provas, tem um ambiente especial provocado pela imensa algazarra que os mais petizes fazem. A alegria e ansiedade estampada nos rostos destes irrequietos atletas dão um enorme encanto à corrida e arriscaria mesmo dizer que contagiam os mais velhos.

Depois de os mais pequenos terem abrilhantado a festa, iniciou-se a corrida principal que juntava cerca de 250 homens e mulheres, séniores e veteranos, para correrem a distância de 8 km. No fim da prova ouviram-se as habituais reclamações, sobre o calor, a escassez da água que não chegou para todos, a falta da marcação dos quilómetros, a dureza do percurso com muitas subidas e o piso em paralelo, alcatrão e terra, bem típico de uma zona onde ainda se respira uma certa ruralidade.


Obviamente que a prova teve algumas falhas, estava um certo calor, o que fez com que a água esgotasse mais depressa em prejuízo dos mais atrasados, mas a lacuna foi de alguma forma colmatada pela gentileza dos moradores que disponibilizaram água desde algumas casas. Uma das coisas que mais valorizo nas corridas é a segurança dos atletas em prova e aqui a organização esteve impecável, pois o trânsito ao longo de todo o percurso estava totalmente cortado, o que como bem sabemos, não acontece em muitas provas para desespero dos mais atrasados. Na chegada não existe cronometragem, muito menos classificações na internet, apenas umas meninas que vão apontando os números dos dorsais de quem acaba e elaboram uma classificação, havendo para o efeito na meta, várias linhas de chegada devidamente divididas por escalão a que os atletas pertencem. Uma originalidade que merece o meu aplauso!

Além de aplaudir, não posso também deixar de enaltecer o trabalho do António Zeferino, que também é atleta, chegando mesmo a ser olímpico por Cabo Verde e é a verdadeira alma desta organização. Ele é o secretário que recebe as inscrições, distribui dorsais, dá o tiro da partida, elabora classificações, para além de que também agarra no microfone e chama ao palco os vencedores para distribuir os prémios. Um trabalho cansativo, mas que o Zeferino faz com particular simpatia, própria de um verdadeiro amante da modalidade, que quer levar o atletismo até ao povo.

Os prémios de participação, esses são ao agrado de todos. Toda a gente leva para casa mais que uma t-shirt, porta-chaves, miniatura em barro do Galo de Barcelos, com um texto narrando a respectiva lenda e uma placa em cerâmica alusiva ao clube de atletismo, que só podia ter o nome "Os Ceramistas". Por tudo isto, confesso ter um carinho especial por esta prova, que foi adquirido no ano passado na sua primeira edição. Assim, apliquei-me com a mesma entrega como se estivesse a correr numa prova mediática em Lisboa ou Porto e quando cheguei ao fim o meu cronómetro marcava 28m50s, com o baptismo de ter sido a primeira prova onde também ganhei um prémio monetário de 10 euros, pelo 9º. lugar em Veteranos 45-50 anos!

No próximo domingo calaçarei as sapatilhas para meia maratona de Cortegaça. Até lá!

terça-feira, 1 de maio de 2007

Estafeta com Fernando Pessoa.


A quadra é o vaso de flores que o Povo põe à janela da sua Alma.
Fernando Pessoa






A quadra é a poesia do Povo.
José Capela





Num destes dias revisitei Fernando Pessoa e ao ler as suas quadras ao gosto popular, surgiu-me a ideia de com ele fazer uma "estafeta de versos" . Assim, Pessoa vai "correr com letra itálica" e eu vou "correr com letra normal". O maior poeta português levará com facilidade o seu testemunho ao Povo, eu aproveito a sua "corrida" para tentar lá chegar!

Teus olhos esntristecem.
Nem ouves o que te digo.
Dormem, sonham, esquecem...
Não me ouves, e prossigo.

Os meus olhos são pedra rara
Que desconheço o valor,
Não se vê de forma clara
A paixão e o amor.

Olhas-me de repente
De um distante impreciso
Com um olhar ausente.
Começas um sorriso.

Se me olhares em profundidade,
Talvez consigas uma leitura,
Que vai do sonho à realidade
Com sedução à mistura.

Floriu a roseira toda
Com rosas de trepar...
Tua cabeça anda à roda
Mas sabes-te equilibrar.

Um jardim nasceu
Dentro do meu peito,
Junta o teu coração ao meu
Para o amor ser perfeito.

Se eu te pudesse dizer
O que nunca te direi,
Tu terias que entender
Aquilo que nem eu sei.

Ofereço-te um rosa encarnada.
Escrever seria em vão!
As palavras não dizem nada
Quando fala o coração.

Tenho um livrinho onde escrevo
Quando me esqueço de ti.
É um livro de capa negra
Onde ainda nada escrevi.

Um beijo muito demorado
Na tua boca de mel,
Para que o amor fique agarrado
Como a tinta ao papel.

Nos meses de Maio e Junho existem muitas festas e romarias no norte de Portugal, época também fértil em corridas populares, às quais eu me associo com a paixão e a alegria que fazem desta vertente do atletismo uma modalidade verdadeiramente do Povo.

Haja pernas!!!