quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Maratona de Sevilha: Uma aventura feliz.

O dia de sábado ainda mal tinha nascido e já os nossos dois amigos, os condutores da carrinha de nove lugares que alugamos para a viagem a Sevilha, estavam no local da concentração com tanto entusiasmo e boa disposição, que percorrer 750 km até parecia que ia ser uma coisa simples e rápida. Depois de um café para despertar fizemo-nos à estrada, entre conversas, risos e histórias, a nossa Ford Transit foi engolindo os quilómetros e nós fazendo aqui e ali pequenas paragens para alongar as pernas. Assim chegamos a Elvas e como passava um pouco do meio-dia aproveitamos para fazer uma pausa maior e almoçar do lado de cá da fronteira, pois sempre estamos mais habituados à comida portuguesa.

De novo na estrada e já em Espanha, começou a chover, aumentando de intensidade à medida que nos aproximávamos de Sevilha e em alguns locais era acompanhada de nevoeiro. Naturalmente a nossa viagem começou a atrasar-se, o tempo não ajudava, as obras na estrada também não e ainda tínhamos o agravante de adiantar o relógio, para estarmos em sintonia com hora espanhola. Estes contratempos fizeram com que só chegássemos a Sevilha por volta das 18h00. A chuva não parava e começava a anoitecer. Com a ajuda de um mapa do google, não demoramos muito a localizar o hotel, o problema maior foi na hora de estacionar uma carrinha de grandes dimensões, numa cidade onde a anarquia do parqueamento é regra. A nossa primeira aventura começava, não fosse a enorme destreza dos nossos condutores e ainda hoje estávamos 'presos' nas ruas estreitas do centro histórico de Sevilha. Para chegar a tempo de levantar os dorsais na Feira da Maratona, que encerrava às 20h00, tivemos de 'dar à perna' e o ligeiro passeio que tínhamos planeado para descomprimir foi, assim, trocado por uma corridinha à chuva desde o parque de estacionamento até ao interior do Estádio Olímpico.

Regressamos ao hotel para tomar um banho, saímos para jantar e a nossa segunda aventura começava na procura de um restaurante onde pudéssemos comer massa. As indicações que nos deram não foram as melhores, a chuva tornou o nosso mapa ilegível, os restaurantes italianos eram pequenos e estavam todos lotados. Só depois de muitas tentativas mal sucedidas, e já muito para além das 22h00, encontramos um restaurante onde foi possível reabastecer o corpo dos imprescindíveis hidratos de carbono. Com tanto atraso acumulado, só foi possível estar pronto para dormir já passava da meia-noite, o que convenhamos começava a ser tardio para quem se tinha levantado cedo, feito uma longa viagem e no dia seguinte tinha de acordar novamente cedo e correr uma maratona. Finalmente a luz apagou-se, mas o sono teimava em não chegar, um dos meus companheiros de quarto não ressonava, mas ao dormir bufava que nem uma locomotiva e o outro tinha um relógio que emitia um bip a cada hora certa que passava. Conclusão, não dormi mais que duas horas! Às 7h00 já tinha tomado banho, o pequeno-almoço e estava pronto para sair do hotel. Curiosamente continuava bem disposto, mas nesse momento decidi que iria ser mais cauteloso na corrida, pois atendendo a todas estas condições seria muito difícil bater o record pessoal, mas obviamente tentaria fazer o melhor possível!

Eram quase 8h00 da manhã, ainda noite cerrada e já o nosso grupo estava no Estádio Olímpico. Apesar de serem muitos os atletas que ali se encontravam, as condições eram excelentes e funcionais, permitindo que todos nos tivéssemos equipado com muita calma, depositado a roupa em segurança nos vestiários e fizéssemos o aquecimento numa zona própria por baixo das bancadas do estádio. A hora da partida aproximava-se, acedi à pista e aproveitei para apreciar o esplendor do estádio junto ao relvado. Os 3.250 atletas que iriam alinhar na partida davam um novo colorido à pista de atletismo. O céu estava encoberto, a temperatura era amena e a previsão era que assim se mantivesse. Enquanto a música animava e descontraía, o speaker ia fazendo a contagem decrescente. Entre o sorriso de uns e o olhar concentrado de outros, há atletas que se cumprimentam, outros benzem-se, gerando um clima de emoção só possível de viver nos momentos que precedem a largada de uma prova com a magia da maratona.

Soou o tiro da partida e deixei-me deslizar entre a multidão até ao exterior do estádio. Durante os primeiros quilómetros percorridos nas avenidas largas da Isla Cartuja, segui com a precaução que tinha prometido. Assim, dobrei os 5 km com 21m30s, rolando a uma média de 4m18s/km, baixando gradualmente esta média até à Puente Barqueta que assinalava os 10 km, com o meu cronómetro a marcar 42m18s. O percurso encaminhava-se para o interior da cidade sempre por enormes avenidas e aqui comecei a avistar o grupo das 3 horas comandado por um atleta que a organização colocou para imprimir um ritmo para esse tempo e levava um balão pendurado na camisola para o distinguir. A partir daí fui sempre no encalço deste numeroso grupo, que seguia 300 metros à minha frente, mas iria ser preciso muita paciência e muitos quilómetros para me colar a eles sem me desgastar. Fui correndo sempre a uma média a rondar os 4m10s/km, passei a meia maratona com o tempo de 1h29m13s e o 'grupo do balão' ainda ia à minha frente cerca de 200 metros. Neste momento, para finalizar abaixo das 3 horas a margem de erro era muito reduzida. Disse aos meus companheiros que seria importante por volta dos 30 km já estarmos junto daquele grupo. Tivemos que imprimir um ritmo mais forte, fizemos quilómetros a 4m05s e 4m06s e desta forma aos 32 km já corríamos ao lado do 'atleta do balão'! O grupo era composto por 3 ou 4 dezenas de atletas, ali permaneci até ao abastecimento dos 35 km. Sentia-me com força, estava bem. Um grupo de atletas deixou o 'balão' para trás, que pareceu abrandar um pouco e eu acompanhei-os seguindo a um ritmo de 4m12s/km até aos 39 km, com o Estádio Olímpico já no horizonte. Nos dois quilómetros seguintes tive uma ligeira quebra mas nunca excedi os 4m25/km. No último quilómetro, embalado pela descida do túnel de acesso ao estádio e galvanizado pelo magnífico ambiente, que me transportou para imagens épicas de atletas olímpicos, cortei a meta feliz e com o tempo de 2h58m23s!

Fiquei muito contente! Foi o meu segundo melhor tempo de sempre e a maratona em que fui mais regular, 1h29m13s na primeira metade e 1h29m10s na segunda! Foi também aquela que me 'doeu' menos! Gostei do percurso, da organização, a partida e chegada ao Estádio Olímpico realçam ainda mais a mística da maratona, pelo que será com toda a certeza uma corrida que irei repetir. Valeu muito a pena esta aventura que teve um final merecidamente feliz!

VIVA A MARATONA! E os que aceitam o seu desafio...

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Maratona de Sevilha: Aproxima-se a hora!

A Maratona de Sevilha é já no próximo domingo. Apesar de ser a 7ª. maratona em que vou participar, começo a sentir uma certa ansiedade à medida que a hora do tiro da partida se aproxima. Acho normal e natural! Primeiro não se correm maratonas todos os meses, o que por si só causa uma certa pressão no participante; depois é uma prova carregada de história com inúmeros espisódios de transcendência e sacrifício, esforço e sublimação que não deixam indiferente o atleta do pelotão que se propõe corre-la.

A experiência adquirida em maratonas anteriores, permite-me salientar alguns aspectos que me parecem importantes:
  • Saber a que ritmo devemos correr e dentro desse ritmo oscilar o menos possível, para que possamos fazer uma correcta gestão do esforço;

  • A 'verdadeira' maratona começa após os 30 km e se até aí corrermos acima das nossas possibilidades, iremos ter muitas dificuldades na infindável parte final;

  • O bom ou o mau resultado está sempre associado ao desempenho obtido nos últimos 12 km.

Perto da hora de abalar para Sevilha admito que os treinos de preparação que efectuei ao longo das úultimas 12 semanas não correram na perfeição, mas são suficientes para me dar confiança no alcance da minha melhor marca pessoal. No entanto, se conseguir chegar antes das 3 horas, considero desde logo uma boa prestação.

Independentemente do resultado que vier a alcançar, correr nas ruas de Sevilha, nas margens do Guadalquivir, na Isla Cartuja, partir e chegar ao magnífico Estádio Olímpico, será sempre muito gratificante e certamente uma excelente experiência que irá enriquecer a paixão que tenho pela corrida.

Viva a maratona!