terça-feira, 28 de outubro de 2008

Maratona do Porto: O brilho de um record!

Foram muitas as horas e muitos os quilómetros nas pernas durante as nove semanas de treino de preparação para a Maratona do Porto. Mas não pensem que constituiu qualquer espécie de sacrifício, antes pelo contrário, foram excelentes os momentos de convívio com os meus companheiros de equipa, onde a boa disposição era misturada, naturalmente, com o suor dos exigentes treinos que cada um tinha que fazer. Atrevo-me até a adulterar um antigo adágio popular para traduzir a entrega e o prazer com que os bravos maratonistas do meu grupo demonstraram durante estas semanas: Quem corre por gosto não cansa, diverte-se!
.
Todos os corredores da maratona,quando chegam à última semana sentem que o treino já está feito. Os dias que antecedem a 'prova rainha' são para o descanso activo e como estamos no Outono, costumamos dizer que são apenas uns 'trotes ligeiros' para varrer as folhas das árvores que vão caindo sobre o parque. Conversamos sobre maratonas passadas, tentando exorcizar as experiências negativas ou focando os aspectos gloriosos. Digamos que, de uma forma prosaica, estamos a fazer o que os entendidos designam por preparação psicológica!

O que mais me preocupa nesta última semana é o receio de ser atacado por alguma gripe! Na segunda-feira comecei a sentir uma leve indisposição no estômago, mas não dei grande importância, pois achava que a corridinha leve do fim do dia seria o suficiente para repor a normalidade. Puro engano! A coisa complicou-se de tal modo que, na terça-feira fui acometido de tamanho mal-estar que cheguei a pensar que a maratona estava em risco. Felizmente ainda fui a tempo de me safar desta maleita, sem ter de deixar de ouvir as bocas lá da malta, que as minhas dores de barriga eram sintomas de medo! Quem tinha no seu historial sete maratonas ia lá ter medo! Ainda fui ironizando dizendo que tenho muito mais pernas que barriga!

No domingo estava uma bela manhã de sol e como a hora tinha atrasado, às 8 horas da manhã já o astro rei brilhava mais alto. Gosto de chegar cedo ao local da partida para sentir a envolvência da prova e fazer subir a adrenalina. O objectivo, apesar do imprevisto dos últimos dias, não foi minimamente alterado, iria correr para o record! Foi para isso que treinei, não fazia sentido alterar e além do mais no momento sentia-me bem, se depois lá mais para a frente me ressentisse, paciência!

Tinha combinado com dois companheiros, não da minha equipa mas de muitas corridas, fazermos a maratona juntos. Temos andamentos idênticos e a estratégia era rolar, em termos médios entre os 4m06s/km e 4m10s/km ao longo de toda a prova, com a noção que o percurso na primeira parte é mais fácil, mas não caindo na ratoeira de querer ir mais rápido logo no início. Apontávamos a passagem à 'meia' dentro da 1h26m e um tempo final de 2h55m. Foi com esta táctica que os três mosqueteiros se lançaram à corrida e foram engolindo os quilómetros. Até ao décimo quilómetro ainda houve a confusão de se saber quem são os maratonistas e os corredores da 'Family Race', mas a partir daí o asfalto e também o maldito paralelo ficavam definitivamente por conta dos bravos da maratona. A cavalgada dos mosqueteiros continuou em passo certo, aqui e ali ultrapassando ou aglutinando um grupo, mas sempre dentro do ritmo estipulado. No tapete da meia-maratona o nosso tempo de passagem foi de 1h26m19s e com uma frescura que permitia encarar a segunda parte da corrida com muito optimismo!

Os quilómetros foram passando e o nosso ritmo continuava imperturbável, certinho como a corrente do rio Douro. No quilómetro vinte e cinco junto à ponte D. Luís os mosqueteiros já seguiam sozinhos estrada fora. Os abastecimentos começam a ser imprescindíveis e a ajuda entre nós foi exemplar. Rumávamos agora até ao retorno do Freixo, aqui podíamos ver os atletas que iam à nossa frente e que já regressavam no sentido inverso, mas na verdade não vimos muitos o que era um bom indicador para a nossa prestação. Assim chegamos ao trigésimo quilómetro com o tempo de 2h02m45s e uma excelente média de 4m05,5s/km. Mas como costumo dizer: A maratona é um passeio de trinta quilómetros e uma prova de doze quilómetros mais cento e noventa e cinco metros, que ia começar nesse preciso momento! Agora é que os mosqueteiros teriam de dar corda...às pernas!

Estoicamente até ao 'famoso muro' do trigésimo quinto quilómetro que anunciava 2h23m29s, a média sofria um pequeno abalo, mas este verdadeiro trio de ataque ia-se aguentando com muita valentia. O inevitável paralelo das palmeiras da Foz é dificil de dobrar, onde é possível salta-se para o passeio, tentando descobrir um trilho melhor, mas não há nada a fazer, ali é o 'cabo das tormentas' que foi vencido com o custo de alguns preciosos segundos. Com a avenida Brasil aos nossos pés e o quilómetro quarenta nos olhos, o meu cronómetro marcava 2h45m14s. No horizonte, cada vez mais visível surgia o record. Na subida do quilómetro quarenta e um tinha uma verdadeira claque de apoio composta pelos atletas do meu clube que tinham feito a 'Family Race' - galvanizado por este estímulo imprimi um ritmo mais forte, os outros mosqueteiros cederam um bocadinho e eu galguei o quadragésimo segundo quilómetro em 4m03s, ainda com fôlego para dizer, a um amigo que me aplaudia, que o record estava no papo, entrando na recta da meta com um sprint e os olhos no relógio electrónico que ia marcando o tempo de 2h53m55s...2h54m05s...2h54m15s quando o passei!

Segundos depois chega o segundo mosqueteiro, Manuel Mendes, que disse que me acompanhava até onde as forças dele dessem! Imediatamente a seguir chegou o outro mosqueteiro, Alberto Soares, companheiro de muitas 'meias' e que sempre me prometeu que ia ajudar-me a bater o record na maratona, possuidor de uma forte determinação e inexcedível na ajuda, cumprindo integralmente o prometido. Faço também questão de, enaltecer todos os elementos do NATaipas, pelos excelentes resultados obtidos, tanto a nível colectivo como individualmente. Um grande Obrigado a todos! A maratona é uma corrida onde o espírito de solidariedade entre os atletas é mais forte, o que a torna ainda mais distinta e especial!
.
Foi no Porto que, em 2004, me tornei maratonista, corri todas as edições seguintes, tenho um enorme afecto pela cidade e pela prova e era aqui que desejava bater o meu record! Tudo correu na perfeição, fui 47º na classificação geral e alcancei o privilégio de ir ao pódio pelo 2º lugar no escalão 45-50 anos! Foi um domingo onde o sol brilhou especialmente para mim!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Meia-Maratona de Ovar: 'Intermezzo' para a maratona.

Neste domingo cumpri a 6ª. semana de treino para a Maratona do Porto. O treino programado para este dia contemplava a participação nos vinte anos da Meia-Maratona de Ovar. O ambiente era festivo e os atletas compareceram em massa demonstrando uma enorme admiração e simpatia por esta 'meia'. A organização esteve em bom plano e a manhã de sol que se fez sentir deu ainda mais brilho à prova.
.
Correr uma meia-maratona sem dar o meu máximo é coisa que não me permito muitas vezes, confesso que gosto sempre de dar o meu melhor, mas como o objectivo principal é estar nas melhores condições na maratona, a ordem era clara, muita calma e moderação nas pernas. Digamos que foi um 'intermezzo' para a grande 'ópera' do dia 26 de Outubro.

Deste modo até foi mais fácil entrar na 'festa' e ver um outro lado da corrida, que só é possível quando vamos descontraídos e nunca no limite. Cumprimentamos amigos, brincamos com os companheiros de estrada, saudamos o público, ajudamos os atletas em dificuldades, incentivamos os que vão na frente e ainda desfrutamos da paisagem. Desde o tiro de partida até à meta segui confortavelmente num ritmo estável entre 4'00"-4'05"/km, concluindo a prova com o tempo de 1h25m03s, a escassos 3 segundos do tempo exacto que tinha programado!

Mais importante do que o tempo obtido nesta 'meia', era a análise da resposta das pernas a um ritmo de certo modo idêntico ao que pretendo correr a maratona. E a resposta das pernas não podia ser melhor: estão bem e recomendam-se! O treino para a maratona ultrapassou já os 650 kms e vai atingir a sua carga mais elevada durante esta semana, depois entra numa fase de diminuição, que será gradual até ao grande dia.

Não sou um novato na maratona, como alguns sabem esta irá ser a minha 8ª, no entanto a maratona está revestida de uma aura mitológica que parece sempre que a vamos fazer pela primeira vez. No passado dia 28 de Setembro, Haile Gebrslassie consegui fixar o record do mundo, que já lhe pertencia, abaixo das 2h04m, mais propriamente, em 2h03m59s! Muitos consideram o mais fantástico feito da história do atletismo. A este propósito, António Simões, colunista d'A Bola escrevia no jornal a este respeito - "...mais do que um acontecimento físico a maratona é um duelo espiritual, a mais sedutora luta entre o homem e os deuses, em que os deuses são a distância, o tempo, a alma - e por esta razão é que os maratonistas são os homens mentalmente mais fortes do mundo..."

Viva a maratona!
E que as pernas se transcendam!