segunda-feira, 21 de abril de 2008

Abril...águas (e treinos) mil!

O calendário faz tempo que anunciou a chegada da primavera, mas o clima teima em desmentir. Os dias estão mais longos, a hora de verão já está em vigor, só que a chuva continua a cair, umas vezes leve, outras com intensidade e por vezes até acompanhada de granizo!

Atleta que se preze, não se desculpa com o mau tempo, para não correr! Claro que faço parte do grupo dos que, mesmo chovendo torrencialmente, calça as sapatilhas e se lança à estrada! Confesso até que sinto um enorme prazer em correr à chuva!

Neste mês de Abril estou em 'pousio' relativamente a provas. Não querendo dizer com isto que esteja a descansar. Antes pelo contrário, estou a treinar afincadamente com o intuito de estar em boa forma na 'maratona de corridas' que irei participar nos próximos meses. Recentemente, o professor Moniz Pereira, ' Senhor Atletismo' como tão merecidamente lhe chamam, disse acerca do treino - "Existem muitos métodos, mas todos tem de ter duas coisas essenciais: trabalho e alegria." Não sei se o trabalho que faço é o melhor, quanto à alegria dispensada no treino, essa está sempre garantida. Como curiosidade, deixo aqui genericamente o plano que tenho seguido, no qual resultam em termos médios 80 kms percorridos por semana, repartidos da seguinte forma:

- Segunda-feira: 60' de corrida contínua, ritmo lento de recuperação;

- Terça-feira: 60' de corrida contínua, ritmo de média intensidade;

- Quarta-feira: Aquecimento de 25', depois séries cuja distância varia semanalmente(8x800m - 2'50", 8x1000m - 3'40", 4x2000m - 7'35" e 8x500m - 1'45") , com intervalos de recuperação a trote de 1' e 1'30";

- Quinta-feira: 60' de corrida contínua, a ritmo lento de recuperação;

- Sexta-feira: 45' de corrida contínua, a ritmo lento de recuperação. (Quinzenalmente, descanso);

- Sábado: 50' de corrida contínua a ritmo progressivo, terminando o último km em ritmo de competição.

- Domingo: Treino longo de 15 km ou 20 km, ritmo vivo, últimos kms muito próximo do ritmo competitivo.


No mês de Maio, no dia 4 vou a Barcelos correr os 8 km do Grande Prémio Festas das Cruzes, para tomar o 'pulso à forma'. Depois a 11, desloco-me à Cortegaça para correr a 40ª. meia-maratona da minha carreira e no domingo seguinte, a 18, estarei junto ao mar na Corrida da Marginal Póvoa de Varzim - Vila do Conde (10 km).

Em Junho o panorama não é muito diferente, a 8 a Meia-Maratona de Matosinhos, a 15 'corro em casa' os 10 km da Corrida das Caldas das Taipas e a 22 rumarei ao Porto para os 15 km da Corrida das Festas da Cidade. Terminando este ciclo de corridas na Póvoa de Varzim a 6 de Julho com os 10 km do Grande Prémio de S. Pedro.

Nestas 7 corridas o objectivo é melhorar as minhas marcas pessoais, tanto na distância da meia-maratona como nos 10 km. Os records existem para serem batidos, obviamente que não é fácil, mas é preciso tentar. Aliás, como eu não me canso de dizer e repetir - Pior que não cumprir os objectivos, é não os ter!

Haja pernas!!!

terça-feira, 1 de abril de 2008

Meia-Maratona "Cego do Maio": E o vento levou o record.


A Póvoa de Varzim é uma das mais conhecidas estâncias balneares do norte de Portugal e a sua praia nos meses de Verão recebe a visita de inúmeros forasteiros em busca dos banhos de sol e de mar. Outrora foi um importante porto de pesca, onde os seus pescadores para ganharem a vida tinham de ser valentes e sem medo de enfrentarem o perigo do tumultoso mar da Póvoa.

Cego do Maio, que viveu no séc. XIX, figura na galeria dos mais ilustres poveiros. Pescador, filho do povo, homem de grande coragem e abnegação, arriscou dezenas de vezes a vida para salvar a dos outros companheiros, nos perigos das duras fainas do mar. As suas proezas tornaram-se lendárias, tendo sido galardoado com as mais altas condecorações, atribuídas pelo Rei D. Luís I, na presença da família real.
Os poveiros, que são gente grata, ergueram-lhe um busto numa praça central com vista para o mar. Recentemente, o município atribuiu à meia-maratona o seu nome numa feliz associação entre esta personagem e a corrida, talvez por tantas serem as vezes que os atletas precisam de valentia e sacrifício.

A primavera já chegou, mas não trouxe com ela o seu tempo ameno. Na madrugada deste domingo, a chuva e o vento fizeram-se sentir, no entanto, quando acordei bem cedo, uma certa acalmia pairava no amanhecer. Rumei à Póvoa de Varzim e quando lá cheguei o céu estava carregado de nuvens cinzentas, o mar com ondas altas e fortes e uma enorme ventania.

Depois da Maratona de Sevilha, tinha feito pontaria a esta 'meia' para tentar bater o meu record pessoal na distância, que curiosamente tinha sido registado aqui na Póvoa e num dia em que as condições climatéricas também não foram as melhores. Assim, estava determinado e iria partir com o objectivo do record em mente. Até o tempo parecia querer melhorar, o sol rompia as nuvens e o vento dava alguma trégua, à medida que se aproximava a hora da largada, mas foi pura ilusão.

Soou o tiro da partida! Como estava bem posicionado e a avenida era larga os primeiros metros foram percorridos sem grandes sobressaltos. Logo aqui deu para perceber que o vento também iria correr. Tento integrar um grupo para obter alguma protecção. Volvidos 2 kms, concluo que este pelotão estava mais interessado em defender-se do vento do que num andamento mais rápido. Este ritmo não servia os meus propósitos. Saio na frente sozinho, ou melhor, na companhia do vento. Mais adiante segue um quarteto de atletas, vou no seu encalço. Quando dobrei os 5 kms com o meu cronómetro a marcar 18m55s, mais 15 segundos que o previsto, já formava com eles um quinteto. Também aqui não permaneci muito tempo, uma vez que não era o andamento que precisava e não me pareceu que pudesse haver entreajuda entre os elementos para superar as cada vez mais difíceis condições climatéricas. Contudo, não estava disposto a esmorecer!

Volto a sair na frente, desta vez tendo como companhia o vento e a chuva forte. Com esta intempérie, naturalmente o meu ritmo sofreu uma quebra, mesmo assim na dobragem dos 10 kms com o registo de 38m05s, quando para atingir o record precisaria de um tempo de passagem de 37m20s, tinha alcançado um nova formação. Decididamente, não era a corrida para seguir em grupo. Sentia-me com força e vontade de correr mais depressa. O vento roubava-me segundos preciosos, mas não me retirava a moral. Lancei-me de novo sozinho estrada fora. O vento perdia força, fraquejava, eu imprimia um ritmo de 3m40s-3m42s/km, o sol substituía a chuva e com esta cadência forte continuei a minha saga na 'luta' contra o tempo - o do relógio e o do clima. Mas o vento é um opositor matreiro e imprevisível, voltou a aprecer na parte final da corrida, por volta dos 20 kms, pouco antes de entrar na infindável recta da meta. Este 'arejado adversário' não satisfeito por me ter impedido de bater a minha melhor marca pessoal, também não permitiu que eu ficasse bem lá perto! Cortei a meta com 1h19m54s, a 59 segundos do almejado record!

No final senti uma ligeira brisa no rosto suado, como se fosse um sinal enviado pelo vento, a dizer: "Paciência, não te deixei ganhar!". Retribui com um sorriso e em jeito de resposta: "Para a próxima há mais!"