segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Descobrir o prazer de...correr com o tempo que faz!

O outono chegou com um tempo bastante quente, mas a pouco e pouco começou a fazer a sua aparição, trazendo com ele as primeiras chuvas, as noites húmidas e as manhãs frias. Nestes últimos dias com as temperaturas a baixar muito, já se sente a proximidade do inverno.

Há muita gente que apenas faz exercício físico na primavera e no verão. Quando a folha começa a cair, ficam em casa a hibernar até à próxima época, preferindo o calor da lareira e o conforto do lar, a serem fustigados pelo tempo frio do parque. Obviamente, são opções respeitáveis. Mas também é bem verdade que é nesta altura que se consegue aferir os que verdadeiramente gostam da corrida. Aliás, os que já adoptaram a corrida como hábito de vida, costumam dizer a quem chega de novo, que só depois de sentirem na pele as agruras do inverno é que se podem considerar elementos da 'tribo'. Congratulo-me porque todos os anos tem 'sobrevivido' sempre mais um, contribuindo deste modo para que o nosso 'pelotão' seja cada vez maior!

Nunca fui adepto de ir para o ginásio correr na passadeira rolante. Sempre associei a corrida ao ar livre, assim correr ao sol ou à chuva, no frio ou no calor, de noite ou de dia, é desfrutar de um intercâmbio entre o ser humano e o que a natureza tem para nos oferecer a cada momento. Independentemente do tempo que possa fazer, correr é liberdade e prazer, jamais um sacrifício ou uma obrigação!

Como referi no último post, iria entrar num período de recuperação, dado que a Meia-Maratona da Nazaré deu-me indicações precisas sobre ser necessário abrandar o ritmo. Após alguns dias de descanso efectivo, recomecei os treinos com corridas suaves e mantendo esta actividade de relaxamento durante quinze dias. Agora irei aumentar um pouco a carga, mas sem estar preocupado com grandes resultados e é com este espírito que vou participar no dia 8 de Dezembro, naquela que é a mais antiga prova realizada em Portugal - a Volta a Paranhos, que este ano comemora a 50ª. edição. Evidentemente, eu não poderia deixar de estar presente nesta autêntica festa do atletismo.

Não se desculpem com o tempo, façam o favor de correr!

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Meia-Maratona da Nazaré: Sete saias e um 'estouro'!

A Nazaré tem as suas raízes muito ligadas ao mar. Os povos que aqui chegaram trouxeram não só as novas artes de pesca, mas também o mode de vestir. Assim, a pesca marca profundamente esta terra e noutros tempos a bravura dos nazarenos era reconhecida no domínio dos mares quando as tripulações de bacalhoeiros rumavam à Terra Nova. No entanto, a industrialização da pesca e a crise do sector contribuíram para a perda de importância desta actividade e nos dias de hoje esta vila é mais conhecida pela sua praia.

Quando se fala da Nazaré, é quase obrigatório falar das mulheres das sete saias, traje muito antigo, que ainda agora, embora um tudo ou nada alterado, é ostentado por algumas vendedoras de tremoços e pevides. As sete saias fazem parte da tradição, do mito e da lenda e diz o povo que representam sete virtudes: os sete dias da semana, as sete cores do arco-íris, as sete ondas do mar, entre outras atribuições bíblicas e mágicas relacionadas com o número sete. Na verdade ninguém sabe ao certo a sua origem, nem mesmo os muitos que se debruçaram sobre a matéria chegaram a conclusões convincentes. Todavia, existe um ponto em que todos parecem estar de acordo: este traje foi adoptado pelas nazarenas por influência da vida do mar. Quando os pescadores partiam para a sua labuta no mar, as mulheres faziam longas horas de vigília até eles chegarem e esperavam-nos sentadas no areal da praia, usando as várias saias para as protegerem do frio e da maresia que se fazia sentir durante a madrugada.

O sol rompeu por entre as nuvens e brindou a Nazaré com um magnífico dia para a corrida e até o vento que costuma fustigar os atletas junto ao porto de abrigo, desta vez fez questão em não comparecer. Os atletas do pelotão continuam a demonstrar grande carinho pela 'mãe das meias-maratonas' de Portugal e apesar de não ter a multidão de outros tempos, mesmo assim o número que alinhou à partida era muito significativo e se a estes juntarmos os participantes na caminhada e o numeroso público que na avenida da praia aplaudia os atletas, estava criado um clima de verdadeira festa do atletismo.

Os objectivos que tinha para a minha corrida eram claros: fazer cada 5 km em 19 minutos, o que daria um tempo final a rondar a 1h20m30s. Assim que a Rosa Mota deu o tiro de partida, tentei logo adoptar um ritmo muito próximo deste tempo, para depois poder estbilizar ao longo da prova. Após os primeiros kms corridos no interior da vila e à passagem dos 5 kms junto ao porto de abrigo o meu cronómetro marcava 18m52s, estava portanto dentro do planeado, mas confesso que não ia muito à vontade. Continuei dentro deste ritmo em direcção a Famalicão onde se procede ao retorno, aos 10 kms ainda ia no tempo estipulado, pois cruzei a placa que os assinalava com 38 minutos exactos, mas as pernas davam sinais que não iam aguentar este ritmo. A passagem dos sinais à realidade foi quase imediata e os kms que se seguiram foram de quebra notória, quando virei no retorno, nem mesmo a ligeira descida foi suficiente para tentar recuperar algo perdido. Quando dobrei os 15 kms, com o tempo de 58m45s, nem com uns colegas a passarem por mim e a motivarem-me para ir na 'roda' deles, conseguiram estimular-me, não havia nada a fazer, as pernas não tinham força, deixei-me ir no ritmo possível até à meta concluindo a prova com o modesto tempo de 1h25m06s.

Esta prova não vai ser para esquecer, mas sim para recordar os erros cometidos após fazer uma maratona. Nunca devemos descurar o descanso e a recuperação da 'prova rainha' do atletismo e se não atendermos correctamente a essas duas coisas essenciais, as pernas pagam a ousadia de desobedecer aos princípios fundamentais da restauração da energia do corpo. Assim, a 'mãe das meias' não embalou as minhas pernas para um óptimo resultado, antes pelo contrário, deu-lhes uma bela reprimenda e uma importante lição para o futuro, tal e qual o 'puxão de orelhas' que qualquer mãe dá ao filho quando este o merece!

Apesar de a um ritmo mais moderado...que continuem as boas corridas!!!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Porto, Nova Iorque e Nazaré!

Caiu o pano sobre a Maratona do Porto. Quando os objectivos que traçamos para a prova rainha do atletismo são atingidos, até parece que a recuperação é mais fácil. No dia seguinte à maratona, pela manhã, fiz uma caminhada muito ligeira e no final da tarde fui a um centro de massagens, entregar as minhas pernas a uma simpática e competente massagista que com umas mãos milagrosas as deixou como novas. Mais dois dias de caminhadas e confesso que no quarto dia já nem me lembrava que tinha corrido os quarenta e dois quilómetros cento e noventa e cinco metros. Assim, regressei à terra batida do parque das Taipas para correr, obviamente, devagar e não excedendo quarenta minutos. Continuei as corridas muito suaves e por períodos não muito longos, fazendo aquilo que entre os atletas se designa por 'descanso activo'. Quando passaram dez dias, progressivamente fui aumentando a carga e orientando o treino para ritmos mais rápidos, procurando readquirir a velocidade perdida com a preparação da maratona, pois avizinham-se novas corridas e é preciso estar em forma!

Durante este período deu-se uma feliz coincidência. O Teatro Oficina de Guimarães estreou a peça "Maratona de Nova Iorque", que como podem imaginar eu não poderia perder. Vim a saber que o autor, o italiano Edoardo Erba, é considerado um dos mais brilhantes talentos da sua geração e que "Maratona de Nova Iorque" foi produzida e levada a cena em muitas cidades do mundo. A peça é notável! Dois actores, a correrem sem sairem do sítio durante quarenta e cinco minutos, representam dois amigos, atletas amadores, que treinam à noite para dali a um ano fazerem a Maratona de Nova Iorque. Um é mais fraco, revela todos os seus medos, o outro tem mais certezas e entusiasmo, mas ambos estão unidos pelo esforço e pela fadiga comuns, tentando não desistir. Através das palavras ofegantes da corrida vão dialogando, muitas vezes utilizando o calão, revisitando o passado, desde as lembranças e as memórias pessoais, até um sprint final para o futuro. A maratona pode não ser uma metáfora da vida, mas a sua própria história, revivida por milhares de atletas amadores nas centenas de provas que se realizam em todo o mundo, é um pedaço de vida de cada um em busca da descoberta de si próprio.

O calendário das corridas não pára, o que é preciso é ter pernas! Para verificar se as minhas já se encontram totalmente recuperadas da 'estopada' da maratona, nada melhor que pô-las à prova! Todos os atletas do pelotão sabem que no segundo domingo de Novembro, na Nazaré, se realiza a mais antiga meia-maratona de Portugal e a quem todos carinhosamente chamam a 'mãe das meias-maratonas'. Esta vai ser a 33ª. edição, o que é sempre de saudar tão longa longevidade, sendo esta das provas que quem participa pela primeira vez promete voltar no ano seguinte. Pela parte que me toca assim o tenho feito desde que me iniciei no munda da corrida, pelo que domingo será a minha quinta participação consecutiva. Vamos lá ver se a 'mãe' embala as minhas pernas para um óptimo resultado.

Bons treinos, boas corridas!