quinta-feira, 20 de março de 2008

Meia-Maratona de Lisboa: A ponte da festa.

A Ponte 25 de Abril é palco da que é, por muitos, considerada a maior manifestação desportiva realizada em Portugal. A meia-maratona atingiu este ano a maioridade, vai já na 18ª. edição e quando nos primeiros anos resolveram associar à prova uma 'mini-maratona' com partida em simultâneo, mas na distância de apenas 7 km, onde alguns correm e a maioria caminha, o evento não parou de crescer, até chegar a atingir nos últimos anos os 35.000 participantes.

Como a comunicação social está sempre atenta a fenómenos que juntem multidões, obviamente a Meia-Maratona de Lisboa, começou a ter espaço nos écrans da televisão e nas páginas dos jornais, projectando-a cada vez mais. A organização, aproveitando habilmente o mediatismo, obteve apoios institucionais, angariou importantes patrocinadores, que junto com a receita das inscrições dos milhares de participantes, consegue arrecadar meios financeiros que lhe permite anualmente contratar a elite do atletismo mundial, dar dimensão internacional à prova e torna-la uma das mais rápidas do planeta.

Se alguém mais distraído no dia da 'meia-maratona' estiver em Lisboa e deparar com o deslumbrante cenário de uma multidão deslizando em cima da ponte, seria levado a pensar que Portugal é um país de desportistas. Aqui é que reside a grande contradição desta 'corrida'. Segundo números da organização que este ano impôs um limite de 30.000, destes apenas 6.000 estavam inscritos para a meia-maratona, chegando à meta no Mosteiro dos Jerónimos 4.772 atletas. Dos 24.000 que participaram na 'mini' não existem números, mas arrisco dizer que apenas 4.000 correm, os restantes 20.000 só caminham. Nada tenho contra a caminhada, antes pelo contrário, saúdo, mas a criação de 'minis' inseridas nas provas maiores, nasceu com o intuito de promover a prática da corrida e a renovação do pelotão, procurando cativar os mais jovens a aventurarem-se em distâncias mais longas. Infelizmente, não me parece que isto esteja a suceder, ou se está, o processo é demasiado lento e pouco perceptível.

Percorrer a ponte é naturalmente mágico, aliás só pode ser mesmo atravessada a pé no dia da meia-maratona. A vista sobre Lisboa e o Tejo é um regalo para os olhos. Com uma panorâmica destas e o sol que brilha em Lisboa durante o mês de Março, é suficientemente convidativo para muitos trocarem o conforto da cama por uma manhã mais saudável - pena é que só o façam uma vez por ano! Deste modo a corrida propriamente dita passa para segundo plano, o clima e o espírito são de festa. Assim, bem cedo é grande o colorido e a algazarra que a multidão faz nas estações e no comboio que a transporta até ao Pragal, onde as boas vindas aos 'atletas' são dadas por uma Banda Musical. Depois segue-se a caminhada em jeito de peregrinação até ao local da partida, sob o olhar sereno do Cristo-Rei, que lá no alto, de braços aberto, parece agraciar os 'devotos da ponte'. Enquanto se espera pelo tiro da largada na praça da portagem, assiste-se ao desfile e à chegada dos mais bizarros participantes para o 'circo' que está prestes a começar. Há o homem de meia idade que segura um pequeno cão pela trela, o papá babado que empurra o carrinho do seu menino, palhaços e criadas de servir, tocadores de gaita de foles, um grupo de vikings ou um bando com vestes tribais, estudantes com capa e batina, militares com botas, boina verde e calças camufladas da tropa, o empregado de mesa com a sua indumentária de trabalho e a respectiva bandeja, sem nunca faltar o missionário, ostentando uma cruz na mão abençoando todos os presentes. São também muitas as velhinhas que procuram acenar para a objectiva da televisão e as tias que procuram o primeiro-ministro para tirarem um retrato.
Antes que o 'espectáculo' comece há sempre uma habitual rebelião, à qual os seguranças não conseguem pôr ordem, tornando-se impotentes para segurar o povo que derruba barreiras e grades, acabando por fazer a mistura entre os da 'mini' e os da 'meia', como que dizendo que a festa tem que ser igual para todos! Muitos argumentam que isto seria fácil de resolver se a organização optasse por não dar a partida em simultâneo, ou seja, primeiro partissem os atletas da meia-maratona, depois os que quisessem correr a 'mini' e por fim todos os outros que fizessem a travessia da ponte a caminhar. Acho que a organização só não faz isto, porque se o fizesse o efeito visual da multidão compacta a percorrer os 2,5 km desvanecia-se e a prova deixaria de atrair tanta gente. Certamente, os que gostam de correr ficariam a ganhar, mas a festa perderia o brilho popular. Dizem que no próximo ano a ponte vai sofrer obras de manutenção profundas, seria uma óptima oportunidade para a organização aproveitar a boleia e proceder também a uma remodelação no esquema da prova.

A minha participação não tem grande história, porque após a primeira presença, entendi que esta prova não era para ser corrida, antes para ser vivida. Assim aproveito sempre esta 'meia' para fazer um treino mais exigente, mas diferente. Como é impossível proceder a um aquecimento digno desse nome, os primeiros quilómetros são para aquecer e observar a paisagem enquanto corro no tabuleiro da ponte; depois vou progressivamente aumentando o ritmo, sem nunca forçar, de modo a concluir a prova confortavelmente.

É que a 'meia' da ponte não é uma corrida, a 'meia' da ponte é uma festa!

terça-feira, 11 de março de 2008

A corrida do Dia do Pai.

A cidade do Porto antecipou o 19 de Março e juntou mais de 15 mil pessoas, umas para correr, outras para caminhar, na Corrida do Dia do Pai que se realizou entre o Parque da Cidade e a Foz do Douro. Assim, na manhã deste domingo que acabou por ser de sol, um autêntico manto branco formado por pessoas de todas as idades estendeu-se ao longo dos cerca de 10 kms do percurso. A Runporto, que organiza impecavelmente todos os eventos de atletismo que se realizam na Invicta, tem motivos mais que suficientes para se sentir muito satisfeita, pois são cada vez mais os que aderam às suas iniciativas. Além do incentivo da corrida e de estilos de vida saudáveis, a Runporto associa também a vertente desportiva a causas sociais, o que ainda engrandece mais as manifestações desportivas que promove. Desta feita a angariação de fundos destinou-se à APPDA - Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e Autismo, que no fim da iniciativa recebeu um cheque no valor de 15.000 euros, correspondentes a 0,50 cêntimos do custo da inscrição e outros 50 oferecidos pela Sport Zone por cada participante.

Depois de ter feito a maratona há 15 dias esta corrida de convívio e sem fins competitivos surgiu em boa altura. Nesta fase de recuperação, correr descontraído e em ritmo de treino, com tempo para cumprimentar amigos e companheiros de estrada ao longo do percurso, desfrutar da magnífica vista que a marginal oferece sobre o mar, foi sem dúvida uma agradável forma de sentir um lado mais lúdico e outro prazer que a corrida pode proporcionar.

Como se comemorava o Dia do Pai, não pude deixar de recordar também o meu, que já partiu há mais de 18 anos. Lembrei-me da sua alegria e boa disposição, que mereceu muita simpatia e um extenso rol de amigos. Veio-me à memória a enorme habilidade que tinha para os instrumentos musicais, que lhe valeram muita admiração como tocador de cavaquinho e bandolim. Por momentos parece que escutei lembrar-me os valores que jamais deveria esquecer - Responsabilidade, honestidade e perseverança.

Espero um dia poder transmitir essa herança aos meus filhos...Obrigado Pai por tudo que me ensinaste!