terça-feira, 10 de novembro de 2009

Maratona do Porto: Passeio, dor e glória!


Estamos no Outono e o exemplo dos últimos dias anunciava que a maratona iria ser corrida com um tempo cinzento e com a possibilidade de ocorrência de chuva. Obviamente que estes caprichos da meteorologia não assustam nenhum atleta, desde que a temperatura não seja muito baixa, aliás até podem de algum modo benéficos. No entanto, se falarmos de vento a coisa já ganha outros contornos e todos torcem o nariz - na verdade o vento nunca é muito amigo dos corredores. O percurso onde a corrida se desenrola, todos o sabem, é muito exposto às deslocações do ar, os amigos aqui da blogosfera que habitam na Invicta e arredores deram conta da ventania que na sexta-feira e no sábado fustigou a zona da Foz. As previsões de tempo apontavam que o vento iria ser de noroeste, atingindo os 21 km/h. Os mais entendidos na matéria avisaram que, nestas condições, os atletas iriam ter de enfrentar o "inimigo" entre os 30 e 40 km da corrida.

Mas previsões não passam disso mesmo e muitas vezes não se confirmam depois na realidade - foi o que efectivamente aconteceu! No entanto, todo este burburinho em volta do vento, levou-me a redefinir a minha estratégia para a corrida. Sentia-me bem e confiante em baixar a fasquia das 2h50m, mas se rolasse a 4 minutos/km e consequentemente passasse a meia-maratona com cerca de 1h24m, a margem de quebra que tinha para a segunda parte da corrida podia ser levada pelo vento, caso este resolvesse aparecer na altura em que surge a barreira dos 30 kms.

O tiro da partida surgiu e o colorido dos atletas foi rompendo entre a manhã cinzenta e a chuva miudinha, no entanto sem ponta de vento! Lá segui com um pequeno grupo, onde me perguntaram a que ritmo iria correr. Informei que iria rolar nos primeiros kms dentro dos 3m50s-3m55s/km aproveitando a inclinação favorável do terreno para amealhar alguns segundos, que poderiam ser preciosos na parte final da corrida, caso o vento quisesse dar um ar da sua desgraça!

Relembrei no último post que uma coisa é a teoria, depois a prática pode ditar outro rumo dos acontecimentos. Quando se corre à chuva parece que há uma tendência de correr mais rápido, como se estivéssemos a fugir dela. Assim, integrado num pequeno grupo desci a avenida da Boavista, passei a Foz, atravessei a ponte D. Luís e passeei-me pelo cais de Gaia, num andamento solto a rondar os 3m55s/km, dobrando a meia-maratona na Afurada com 1h22m30s. O balanço nesta altura era óptimo, sentia-me bem e a margem para alcançar o objectivo era muito animadora. Continuei a engolir os kms nesse ritmo, mas por esta altura já só contava com a companhia da Patrícia, atleta do N.A. Joane. Fomos os dois até aos 28 kms, depois ela começou a quebrar e fiquei sozinho, nada que me apoquentasse ou a que não estivesse habituado. Mantive o bom andamento, nunca excedendo os 4 minutos/km e aos 35 kms sentia que iria fazer um excelente tempo e só uma situação anormal me impediria de tal feito. Mas convém sempre ter em mente que até ao lavar dos cestos é vindima e que a corrida só termina quando cortamos a meta.

Depois de ter ultrapassado o paralelo das palmeiras da Foz, a seguir à placa dos 38 kms, senti uma pontada na coxa direita e uma leve dor a instalar-se! Não entrei em pânico, a margem para a obtenção do objectivo era grande e como estava a poucos kms da meta acreditei que era possível gerir esta contrariedade. Abrandei o ritmo para seguir de forma mais confortável, passando a rolar a 4m20s/km. Na avenida Brasil sou dobrado pelo campeoníssimo António Pinto, que percebeu a minha dificuldade e me disse para ir na "roda" dele. Nem tentei, preferi ir na minha e suportando alguma dor cheguei aos 40 kms junto ao Edifício Transparente com o tempo de 2h38m22s. A garrafa de água que recebi no abastecimento deitei-a na zona da coxa que me doía e como estava fria senti um alívio de imediato. Entretanto, aos 41 kms, o companheiro de muitas corridas, Francisco Novais do Vitória S.C,, ultrapassou-me na subida do Bela Cruz e eu apanhei a boleia e segui no ritmo dele. A meta estava ali à frente dos olhos! A dor tinha desaparecido e num último fôlego corria abaixo dos 4 minutos/km! Movido pelo incentivo dos amigos e do público entrei na recta final em sprint e ao cruzar a meta o cronómetro registou o fantástico tempo de 2h47m47s!

Concluí a minha 10ª maratona!
O vento não apareceu.
O paralelo não é muito amigo das minhas pernas.
Perdi na segunda parte da corrida 2m47s.
A dor que senti desapareceu e nunca mais deu sinais.
O objectivo foi largamente alcançado!
O meu record foi melhorado em 4m11s!

As últimas palavras são para os meus companheiros do N.A. TAIPAS. Dos 25 inscritos, 23 concluíram a prova, todos com excelentes tempos e cumprindo os objectivos que se tinham proposto. Quando em 2004, também no Porto, me aventurei na maratona juntamente com 6 amigos, estava longe de imaginar que volvidos 5 anos o movimento em torno da maratona atingisse tamanha dimensão.
Na classificação geral por equipas, O N.A. TAIPAS foi o primeiro entre as 25 equipas que pontuaram.

Estamos todos de parabéns!

Viva a maratona!

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Objectivo 169 minutos e 59 segundos!

Está aí a Maratona do Porto!

Após 900 kms nas pernas, de treino específico durante as últimas 9 semanas, no próximo domingo vou estar na linha de partida para correr a minha 6ª maratona no Porto, tantas quantas as edições que o evento já conta. Conforme tinha prometido em Abril, aqui no blog, aquando da última maratona que corri em Lisboa, o objectivo para a do Porto seria baixar a fasquia das 2h50m. Assim, é com este tempo na mente que irei abordar a corrida.

O treino que fiz correu dentro do planeado e, salvo alguma contrariedade de última hora, posso afirmar com alguma segurança que estou em boa forma. No entanto, cada maratona tem a sua história. Assim aconteceu nas 9 que já corri, obviamente esta não irá fugir à regra. A meteorologia é um dos factores que não podemos controlar - vento, chuva, calor ou humidade podem comprometer os objectivos de qualquer atleta, seja ele de elite ou do pelotão. Se o S. Pedro abençoar as pernas com um tempo ameno e fresco, a empreitada fica dependente da boa ou má estratégia seguida durante a corrida. Sendo certo que, se a abordarmos acima das nossas possibilidades e de quanto efectivamente valemos no momento, iremos pagar a ousadia mais tarde, ou seja, lá para os 30/35 kms e todos os objectivos ficarão definitivamente comprometidos. A maratona não se corre apenas com as pernas, corre-se também com muita cabeça!

O percurso da maratona do Porto é enganador, não sendo dos mais difíceis, também não é tão fácil como pode parecer, sobretudo se nos fiarmos apenas nos primeiros 15 kms. Todos os que a correram sabem bem quanto custa correr no famoso paralelo do túnel da Ribeira e junto às palmeiras da Foz, sem esquecer o piso na zona do cais de Gaia que também não é muito macio.

Assim, depois de ponderar todos estes factores, a minha táctica para domingo é muito simples: rolar a 4 minutos/km, passar à meia-maratona com um tempo a rondar a 1h24m, ficando com uma margem de cerca de 1m40s para eventualmente perder na segunda parte da corrida e desta forma baixar os 170 minutos! Mas isto é a teoria, iremos ver como será na prática!

Nestes dias que antecedem a prova rainha do atletismo, povoa-me sempre a memória umas palavras que li num jornal acerca da maratona, que já as referi aqui a propósito desta mítica corrida, mas que nunca é demais recordar - "...mais que um acontecimento físico, a maratona é um duelo espiritual, a mais sedutora luta entre o homem e os deuses, em que os deuses são a distância, o tempo a alma...".

Haja pernas...haja alma!!!