quarta-feira, 27 de junho de 2007

A corrida da minha terra.

Caldas das Taipas é uma pequena vila que pertence ao município de Guimarães. A localidade é banhada pelo rio Ave que nasce na serra da Cabreira e desagua em Vila do Conde. Está situada entre as cidades de Guimarães e Braga, distando cerca de 7 km da primeira e 14 Km da segunda. Ainda hoje as termas têm alguma importância na vila, mantendo um balneário a funcionar, no entanto sem o brilho de outros tempos em que era reconhecida como estância termal.

A utilização terapêutica das suas águas remonta ao Império Romano. A comprovar a passagem dos romanos ficaram alguns vestígios, como o enorme bloco de granito - Ara de Trajano, onde uma extensa inscrição em latim dedicada ao imperador Trajano Augusto, revela a procura e o uso destas águas durante a época imperial.

No tempo em que o termalismo estava no auge, a vila viveu os seus momentos de glória. As suas qualidades paisagísticas e belezas naturais foram enaltecidas pelo escritor Ferreira de Castro, que por cá fazia férias, descrevendo as Caldas das Taipas como: "A terra onde a lua fala". No entanto, com o decorrer dos anos a vila sofreu um forte crescimento, primeiro devido à instalação expressiva da indústria de cutelarias, depois a população residente aumentou pelo facto de estar próximo de duas cidades - Guimarães e Braga, que provocou a expansão do aglomerado urbano com consequências muito negativas na paisagem.

Não sou propriamente um bairrista, mas não é por isso que deixo de afirmar que gosto de morar nesta terra. Aqui tenho as minhas raízes familiares e além de ter sido a terra que me viu nascer, também por cá cresci, despertei para o mundo e me fiz homem. Assim, foi com particular afecto que este domingo participei na Corrida das Caldas das Taipas, cujo percurso era efectuado por caminhos e ruas que tão bem conheço, que me trouxeram à memória belas recordações de uma infância e adolescência muito feliz por estas bandas. Desde as correrias para a escola primária, aos jogos do "mata" no adro da igreja antes da missa, a subida à torre para tocar o sino, passando pelas corridas de bicicleta nas margens do rio e as primeiras braçadas no açude da "praia seca". Relembro ainda a organização do grupo para, nas noites quentes de Verão, roubar fruta nos pomares das redondezas e uns aguerridos jogos de futebol entre os da "lameira" e os do "largo", são deliciosas lembranças que me fazem sorrir.

Invariavelmente, de segunda a sexta ao fim da tarde e ao fim-de-semana de manhã, o parque de lazer da vila é ponto de encontro de vários atletas que ali se reúnem para mais um treino, também pretexto para animadas conversas. Este saudável convívio é uma preciosa terapia para quebrar a rotina dos dias de trabalho e aliviar o stress provocado pela agitação dos tempos modernos. No princípio não passávamos de meia dúzia, mas aos poucos o grupo foi aumentando. Alguns de nós a título individual, uma vez por outra corríamos em provas que se disputavam aqui pelo Norte de Portugal, até que foi lançada a ideia de passarmos a correr colectivamente. Assim nasceu o NAT - Núcleo de Atletismo das Taipas, um clube sem formação estatutária, de raiz popular na sua associação, cujo espírito é cultivar a amizade entre os membros, aliado ao prazer da corrida comum a todos, mas praticada em grupo é muito mais saborosa. Desde 2002, o clube tem crescido e actualmente conta com 38 atletas, entre os quais é de louvar a presença de 4 elementos femininos. Das Taipas a Lisboa, participamos nas mais variadas provas, desde 10 km a meias-maratonas e até temos alguns atletas que se aventuram na maratona. Cada um tem o seu ritmo, mas todos temos a certeza que ganhámos saúde e o sorriso estampado no rosto ao terminar as provas, atesta a felicidade que a corrida nos proporciona.

A segunda edição da Corrida das Caldas das Taipas, ainda revelou algumas debilidades organizativas no registo de tempos e elaboração das classificações, mas melhorando um pouco em termos de corte de trânsito em relação ao ano anterior. Contudo, o número de atletas a participar no evento a rondar os 250 entre os quais 20 femininos, confirmou a excelente adesão por parte dos clubes da região e dos muitos atletas do pelotão locais. Em termos competitivos a prova beneficiou com a presença de três atletas Quenianos, que se juntaram a um lote de atletas nacionais de créditos firmados. Os Quenianos venceram, naturalmente, tanto em masculinos como em femininos. O NATaipas apresentou-se na partida com 30 corredores, ajudando assim a promover o atletismo na terra. As minhas pernas a "correrem em casa" estiveram à altura, concluí os 9.600 metros do sinuoso percurso em 35m20s, o que se traduziu num 40º. lugar na classificação geral e um 5º. em veteranos 45-50 anos. Nada mau!!!

A avaliar pelo entusiasmo gerado entre os atletas e o público local que assistia à corrida, a edição do próximo ano parece-me garantida. Como diria Chico Buarque: "Foi bonita a festa, pá!"

Em plena corrida. Com a minha mãe e os seus lindos 80 anos!

1 comentário:

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

Parabéns Zé!

Pela prestação na prova (já estamos habituados)

Pela rica e enternecedora descrição da prova e da terra (também já nos habituamos)

E Parabéns e um beijinho à tua Mãe! Está magnífica!

E a tua terra mostra-se muito bonita também!