terça-feira, 12 de junho de 2007

A corda do santo, a homenagem ao atleta e o sobe e desce.

Amarante é uma cidade difícil de definir. Ao descer pela serra, os nossos olhos deparam-se com um conjunto urbano plantado nas margens do rio Tâmega e um centro histórico recheado de património arquitectónico, onde sobressaem o convento e a ponte de São Gonçalo, deixando uma impressão mística que deslumbra a vista a qualquer visitante.

O padroeiro da cidade é o São Gonçalo, santo muito popular no Norte de Portugal, chegando mesmo a rivalizar com o Santo António de Lisboa a reverência de "casamenteiro". Ainda nos dias de hoje, com muita frequência, batem à porta da Igreja de São Gonçalo, moças e mulheres a quem a sorte da vida ainda não deu a companhia esperada. Pedem casamento, que tarda a acontecer ou melhoria na relação, que corre o risco de se perder. O santo, uma imagem muito antiga em madeira, com uma corda que pende pela cintura, está à entrada da sacristia. Não abana a cabeça, nem faz qualquer espécie de registo obsceno, mesmo aos pensamentos mais ousados ou às mãos mais atrevidas de mulheres desesperadas para casar que puxam a sua corda. Assim se faz a ligação entre o domínio popular do santo milagreiro e o evangelho através da passagem da mulher anónima que tocara a orla do manto de Jesus, para sentir os efeitos da bendita intercessão.

António Pinto foi um nome grande do atletismo português. O seu nome ficará gravado para sempre na história da maratona de Londres. Em sete participações, Pinto ganhou três, em 1992, 1997 e 2000, foi uma vez segundo em 1999 e três vezes terceiro em 1995, 1996 e 2001. Ainda hoje é o recordista europeu da maratona, com 2h06m36s, obtido precisamente em Londres no ano 2000. O atleta além de excelente maratonista teve também óptimos resultados em pista. Sagrou-se campeão europeu dos 10.000 metros em Budapeste no ano de 1998, consquistando para o atletismo português mais uma medalha de ouro. No ano seguinte em Estcolmo, chegou a recordista europeu da distância com o tempo de 27m12,47s. Amarante, a cidade onde este talentoso desportista nasceu, ao organizar uma corrida e atribuir-lhe o nome, presta-lhe uma justa e merecida homenagem.

A corrida tem a distância de cerca de 9.000 metros e é feita em duas voltas. Assim, a partida é dada junto à margem do rio, em frente à Casa da Cultura e da Juventude, para logo a seguir virar à esquerda, atravessar a ponte de São Gonçalo e subir até à parte nova da cidade. Aqui tomámos a estrada nacional que segue para Vila Real, descemos ligeiramente, atravessando desta feita a ponte nova, subimos até uma rotunda e descemos em direcção ao centro histórico, retomando a ponte de São Gonçalo, para fazer novamente o mesmo percurso até chegar à meta instalada junto ao local da partida. Esta corrida de sobe e desce constante é um autêntico carrossel, com a particularidade de ser um bom teste à capacidade de reacção das pernas. Cheguei ao final da prova com um tempo de 31m15s, confesso que nem estava à espera de tal performance, talvez o facto de a corrida ter poucos participantes, nomeadamente "atletas do pelotão", me tivesse motivado um pouco para andar mais rápido. O António Pinto merecia ter uma corrida com mais participação, como aliás já teve em anos anteriores, mas a opção da organização em marcar a prova para às 18h30m de um domingo, revelou-se, no meu entender, desastrosa e afastou a presença de muitos atletas, que certamente compareceriam se a corrida fosse realizada, como é normal, da parte da manhã.

No póximo domingo a 'romaria das corridas' continua, desta feita no Porto, para em honra do São João participar na Corrida das Festas da Cidade.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei imenso de ler o seu artigo sobre a corrida de Amarante.
Há algum tempo que por aqui não "passava", mas sempre que posso, é "caminho" obrigatório.
Excelente, a prova e as palavras que ganham vida...
Paula Pinto