segunda-feira, 26 de março de 2007

Maratona: "nenikikamen!!!".

No ano 490 a.C. os gregos tinham vencido os persas na batalha de Maratona - planície da Grécia. Após a batalha, coube a Pheidippides a tarefa de levar a boa notícia à cidade de Atenas. O mensageiro correu cerca de quarenta quilómetros e logo após a chegada, só teve fôlego para dizer "nenikikamen!!!" (vencemos!!!) e caiu morto. Na verdade não existe prova deste facto. Uns afirmam que é lenda, outros que a história é verídica. Lenda ou não, séculos mais tarde, em 1896, quando os Jogos Olímpicos da Era Moderna foram recriados, Pheidippides foi homenageado com uma nova modalidade olímpica: uma corrida de quarenta quilómetros que recebeu o nome de Maratona. O vencedor dessa prova foi um grego desconhecido, Spiridon Louis, que era carregador de água e pastor de ovelhas. Em 1908, nos Jogos Olímpicos de Londres, a distância da Maratona foi aumentada para quarenta e dois quilómetros cento e noventa e cinco metros, por capricho da família real inglesa. Os príncipes queriam assistir à prova, mas devido à sua tenra idade, não podiam ir ao estádio, pelo que a solução encontrada foi que os atletas começassem a prova junto ao Castelo de Windsor e a terminassem no estádio White City, em fente à tribuna do rei Eduardo VII.

Os portugueses também fazem parte da história da Maratona, umas vezes de forma trágica, mas muitas outras, com momentos de sublime glória.

Assim, nos Jogos Olímpicos de Estocolmo de 1912, Fancisco Lázaro, um carpinteiro de 21 anos, partiu de Lisboa carregado de esperanças em vencer a Maratona, caiu por terra ao trigésimo quilómetro e acabou por morrer. Sabe-se que estava um dia de calor extremo em Estocolmo. Dizem que besuntou o corpo com uma graxa ou óleo, pois pensaria que, se não suasse, não desidrataria e correria mais. Infelizmente, aconteceu precisamente o contrário, como não transpirou, não eliminou toxinas. Dizem também que foi o único atleta que correu com a cabeça descoberta, debaixo de um sol abrasador.

Não haverá nenhum português que não associe os nomes de Carlos Lopes e Rosa Mota à Maratona. Estes dois atletas fizeram soar o Hino Nacional e subir a bandeira portuguesa ao mastro mais elevado nos Jogos Olímpicos e encheram de orgulho milhões de portugueses. Rosa Mota venceu a primeira Maratona feminina que se realizou, disputada em Atenas nos Campeonatos Europeus de Atletismo de 1982. Os feitos destes dois atletas em maratonas, continuou a ser demonstrado pelo mundo fora, vencendo muitas destas provas e arrecadando vários títulos mundiais e europeus. Carlos Lopes foi durante alguns anos o detentor do record mundial da distância, quando em 1985, ganhou a Maratona de Roterdão, com o fantástico tempo de 2h07m12s. Para além destes atletas, nomes como Manuela Machado, que chegou a ser campeã europeia e mundial e António Pinto, que possui um curriculum impressionante na Maratona de Londres, de três vitórias, um segundo lugar e três terceiros lugares, é ainda hoje o recordista europeu da distância com 2h06m36s, obtido precisamente em Londres no ano de 2000.


A Maratona é a mais longa, desgastante e uma das mais difíceis e emocionantes provas de atletismo. Hoje, tornou-se a corrida de rua mais popular do mundo, são milhares as pessoas que se juntam aos atletas de elite para participarem no desafio de correrem os quarenta e dois quilómetros cento e noventa e cinco metros. Quem a corre pela primeira vez e a termina, não consegue parar de pensar na próxima - é uma sensação estranha e difícil de traduzir. Dentro de alguns dias participarei na minha quinta Maratona, todas as outras que corri, ao chegar à meta, fui invadido por uma enorme alegria. Reparo sempre no rosto cansado mas feliz dos atletas do pelotão ao concluírem a prova e creio que todos, no seu íntimo, escutam uma voz a dizer: "nenikikamen!!!".

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei muito de ler este post.

Revivi a emoção que senti, tal como o resto dos portugueses independentemente da idade, de ver subir a nossa bandeira e escutar o nosso hino. Eu era jovem, nada "dada" às coisas do desporto, mas as imagens e o "arrepio" na pele permaneceram.

Hoje, apaixonada pela corrida, gostaria muito de conseguir, um dia, cortar a meta de uma maratona (sonhos...)

Paula Pinto