Matosinhos é terra de gentes do mar. Tem uma das maiores infra-estruturas portuárias do país: o Porto de Leixões e um grande número de armadores e pescadores que fazem desta região uma das mais relevantes da indústria piscatória nacional. Efectivamente a ligação desta cidade ao mar é muito forte.
O município há três anos a esta parte, resolveu e bem patrocinar a organização de uma meia-maratona, cujo percurso une as duas partes da cidade através da renovada ponte móvel. À primeira vista, parece que estamos perante um percurso fácil, mas rapidamente verificámos que tem um grau de dificuldade considerável. Com a partida e chegada nos Paços do Concelho e depois de algumas voltas pelo interior da cidade, atravessámos a ponte móvel em direcção a Leça da Palmeira, rumámos até à marginal junto ao mar e próximo do Farol da Boa Nova invertemos a marcha. Corremos pelo mesmo trajecto até à ponte móvel, outra passagem pelos Paços do Concelho, mais uma volta, de novo pela ponte e mais uma vez na marginal para dobrar o retorno do farol e regressar definitivamente pela mesma via até à meta. Com tantas voltas e voltinhas, curvas e retornos, algum piso de paralelo e algumas subidas, não é possível manter um ritmo muito estável ao longo de toda a corrida. O lado positivo deste percurso é o grande número de público que atrai, pois sem sair do seu lugar o espectador vê várias vezes os atletas passarem. Na conferência de imprensa de apresentação da prova o presidente da autarquia lançou o repto para que no futuro esta corrida fosse baptizada como "Meia-Maratona do Mar". A ideia não podia ser mais feliz, dado que o mar muitas vezes é sinónimo de dificuldade, mesmo quando as suas águas estão calmas o perigo espreita a qualquer momento, é preciso estar sempre alerta e bem preparado para ultrapassar os obstáculos que possam surgir. Também esta 'meia' aparentemente calma revelou dificuldades inesperadas que só com muita coragem e valentia poderiam ser superadas.
Estava uma bela manhã de sol e advinhava-se que ia estar quente. Afinal estamos em Junho, com o verão quase a chegar, o calor é 'fruta' da época. Se a isto juntarmos o vento que normalmente corre na marginal de Leça e a exigência do percurso, o mote para uma corrida onde iria ser preciso muito sacrifício estava dado. Um número significativo de participantes alinhou à partida o que vem provar que cada vez há mais gente a correr e que estão a perder o medo de enfrentar médias distâncias.
Inicialmente, o meu objectivo era correr para o record, mas cedo verifiquei que iria ser muito difícil. Os primeiros 5 km integrado num grupo com vários atletas foram dobrados com 18m31s, bem dentro do tempo para alcançar a melhor marca. Aos 10 km já com um grupo menor, o tempo registado de 37m22s ainda permitiria chegar à almejada marca, contudo ainda nem estávamos a meio e o desgaste causado pelas curvas e voltas do percurso fazia-se sentir nas pernas. A partir dos 12 km o grupo transformou-se em trio e o tempo para o record começava a ficar hipotecado, mas como não é meu timbre esmorecer, iria dar o meu melhor até ao final. Assim, desde aqui até perto da meta segui sempre no encalço do meu amigo Alberto e do João que é um 'velho' conhecido das corridas. Confesso que estes dois companheiros de estrada é que fizeram o 'trabalho' de puxar e imprimir o ritmo de corrida, eu limitava-me a ir na 'boleia' deles. No último abastecimento. perto dos 18 km, escaparam-se de mim alguns metros. O Alberto prontamente olhou para trás e chamou-me, acabei por me 'colar' a eles na entrada do último km. Na rua que dá acesso à recta da meta eu seguia na retaguarda e disse ao Alberto para ir, pois sentia que ele estava mais forte. Mas ele insistiu em levar-me na sua 'roda' e começou a imprimir gradualmente um ritmo mais forte. Com os olhos na meta e a escassos 100 metros do fim, desafiado pelo meu amigo encetei um vigoroso sprint surpreendendo os dois companheiros sobre a linha da meta. Não foi justo! Eles tinham-me 'rebocado' durante o período mais difícil da corrida, mas afinal estávamos a competir e a competição tem razões que a própria razão desconhece! No final trocámos cumprimentos desportivamente. O meu cronómetro registou o tempo de 1h20m19s. Atendendo a todas as circunstâncias, fiquei naturalmente satisfeito com o meu desempenho. Na classificação geral obtive o 55º. lugar entre os 581 que terminaram e no escalão, 45-50 anos, fui 8º. entre 112 participantes.
No próximo domingo corro na minha terra e vamos ver se 'pernas da casa fazem milagres'!!!
3 comentários:
Viva Zé,
Apesar de tudo uma boa marca!
Tenho a certeza que os teus companheiros compreeendem o teu sprint.
Beijocas,
Nela
Caro Capela
os meus parabéns pela sua excelente prestação, mais uma.
Interessante o título do post, creio que a organização dessa meia-maratona tem intenção de a passar a chamar precisamente de meia-maratona do mar.
Continuação de bons treinos.
Parabéns pelo resultado obtido e por mais um excelente relato da prova.
Será possível linkar no texto o acesso às fotografias da prova?
desde já o meu muito obrigadi
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