quinta-feira, 5 de abril de 2007

No domingo em que me ofereceram tulipas.

Já passaram dois anos. Seria um domingo como muitos outros, se não estivesse na Holanda e não fosse o dia em que correria a Maratona de Roterdão. Recordo muitas vezes as emoções vividas naquele dia.

Partimos cedo de Niew Vennep para Roterdão, estava uma manhã cinzenta, o céu com nuvens carregadas anunciava chuva. Do rádio do carro, saiu a música "Born to run" do Bruce Springsteen e imaginei-me logo a correr na imensa planície holandesa que os olhos perdem de vista.

Quando me encaminhei para a zona de partida, depois de um breve aquecimento, comecei a ter a noção da multidão que estava para correr a maratona. Olhei em frente e vi milhares de cabeças, olhei para trás vi ainda muitas mais. Um cantor entoou uma canção holandesa e quase todos os atletas o acompanharam, fazendo um gigantesco coro. Impressionante! Logo a seguir um canhão disparou um tiro e a maratona começou.

Na passagem pela ponte Erasmus, com apenas três quilómetros de prova, começou a chover intensamente, mas os aguaceiros não foram suficientes para demover a população de Roterdão, de sair à rua e aplaudir os atletas. A envolvência que a cidade tem com a maratona, foi visível ao longo de todo o percurso. Haviam bandas de música a tocar em vários pontos do trajecto e nunca faltaram palmas e palavras de incentivo.

Ao quilómetro dezassete, avistei uma bandeira portuguesa agitada pelo meu cunhado e por um grupo de amigos holandeses, que gritavam: "José! José! José!". Mesmo assim, não me deslumbrei, nesse momento senti que o andamento estava rápido, abrandei um pouco e inseri-me num pelotão de atletas para tentar reguardar-me da chuva e do vento que não paravam.

Em frente ao Estádio do Feyenoord, completei a meia-maratona e o relógio da prova marcava 1h25m51s à minha passagem. Aqui fiz um balanço da corrida. Se na segunda parte da corrida não contabilizasse uma quebra superior a cinco minutos, terminaria com um excelente tempo.

Pouco antes da famosa "barreira dos trinta e cinco quilómetros", as minhas pernas deram sinais de cansaço. Um entusiasta espectador, pareceu presentir as minhas dificuldades, correu a meu lado uns bons duzentos metros, gritando aos meus ouvidos palavras que eu não entendi, mas pela entoação efusiva, só poderiam ser de incentivo. No abastecimento dos trinta e cinco quilómetros, a chuva tinha parado e o sol começou a brilhar rompendo as nuvens. Parece que ganhei forças, ou antes, senti que não as tinha perdido.

Quando passei a placa dos quarenta quilómetros, olhei para o meu
cronómetro com um sorriso. Ia conseguir um belo tempo! Confiante e determinado, embalei para os derradeiros quilómetros com uma passada vigorosa, que foi aumentando de ritmo até à recta final, aqui galvanizado pelos aplausos do numeroso público, fiz um sprint repleto de esforço e felicidade. Cortei a meta com 2h56m04s!


Uma simpática holandesa, envolveu-me numa capa de plástico e colocou-me a medalha em volta do pescoço. Sorriu para mim e deu-me os parabéns, eu que transbordava de alegria nem precisei de sorrir para retribuir. Eufórico, fui caminhando para a zona da saída. De repente, para meu espanto, a filha de um casal amigo da minha irmã, a pequena Linde, corre para mim e oferece-me um ramo de tulipas amarelas. Exaltei de felicidade!

No próximo dia 15 de Abril, estarei de novo em Roterdão para correr a maratona inspirado pelo perfume das tulipas.

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