Estamos no Outono e o exemplo dos últimos dias anunciava que a maratona iria ser corrida com um tempo cinzento e com a possibilidade de ocorrência de chuva. Obviamente que estes caprichos da meteorologia não assustam nenhum atleta, desde que a temperatura não seja muito baixa, aliás até podem de algum modo benéficos. No entanto, se falarmos de vento a coisa já ganha outros contornos e todos torcem o nariz - na verdade o vento nunca é muito amigo dos corredores. O percurso onde a corrida se desenrola, todos o sabem, é muito exposto às deslocações do ar, os amigos aqui da blogosfera que habitam na Invicta e arredores deram conta da ventania que na sexta-feira e no sábado fustigou a zona da Foz. As previsões de tempo apontavam que o vento iria ser de noroeste, atingindo os 21 km/h. Os mais entendidos na matéria avisaram que, nestas condições, os atletas iriam ter de enfrentar o "inimigo" entre os 30 e 40 km da corrida.
Mas previsões não passam disso mesmo e muitas vezes não se confirmam depois na realidade - foi o que efectivamente aconteceu! No entanto, todo este burburinho em volta do vento, levou-me a redefinir a minha estratégia para a corrida. Sentia-me bem e confiante em baixar a fasquia das 2h50m, mas se rolasse a 4 minutos/km e consequentemente passasse a meia-maratona com cerca de 1h24m, a margem de quebra que tinha para a segunda parte da corrida podia ser levada pelo vento, caso este resolvesse aparecer na altura em que surge a barreira dos 30 kms.
O tiro da partida surgiu e o colorido dos atletas foi rompendo entre a manhã cinzenta e a chuva miudinha, no entanto sem ponta de vento! Lá segui com um pequeno grupo, onde me perguntaram a que ritmo iria correr. Informei que iria rolar nos primeiros kms dentro dos 3m50s-3m55s/km aproveitando a inclinação favorável do terreno para amealhar alguns segundos, que poderiam ser preciosos na parte final da corrida, caso o vento quisesse dar um ar da sua desgraça!
Relembrei no último post que uma coisa é a teoria, depois a prática pode ditar outro rumo dos acontecimentos. Quando se corre à chuva parece que há uma tendência de correr mais rápido, como se estivéssemos a fugir dela. Assim, integrado num pequeno grupo desci a avenida da Boavista, passei a Foz, atravessei a ponte D. Luís e passeei-me pelo cais de Gaia, num andamento solto a rondar os 3m55s/km, dobrando a meia-maratona na Afurada com 1h22m30s. O balanço nesta altura era óptimo, sentia-me bem e a margem para alcançar o objectivo era muito animadora. Continuei a engolir os kms nesse ritmo, mas por esta altura já só contava com a companhia da Patrícia, atleta do N.A. Joane. Fomos os dois até aos 28 kms, depois ela começou a quebrar e fiquei sozinho, nada que me apoquentasse ou a que não estivesse habituado. Mantive o bom andamento, nunca excedendo os 4 minutos/km e aos 35 kms sentia que iria fazer um excelente tempo e só uma situação anormal me impediria de tal feito. Mas convém sempre ter em mente que até ao lavar dos cestos é vindima e que a corrida só termina quando cortamos a meta.
Depois de ter ultrapassado o paralelo das palmeiras da Foz, a seguir à placa dos 38 kms, senti uma pontada na coxa direita e uma leve dor a instalar-se! Não entrei em pânico, a margem para a obtenção do objectivo era grande e como estava a poucos kms da meta acreditei que era possível gerir esta contrariedade. Abrandei o ritmo para seguir de forma mais confortável, passando a rolar a 4m20s/km. Na avenida Brasil sou dobrado pelo campeoníssimo António Pinto, que percebeu a minha dificuldade e me disse para ir na "roda" dele. Nem tentei, preferi ir na minha e suportando alguma dor cheguei aos 40 kms junto ao Edifício Transparente com o tempo de 2h38m22s. A garrafa de água que recebi no abastecimento deitei-a na zona da coxa que me doía e como estava fria senti um alívio de imediato. Entretanto, aos 41 kms, o companheiro de muitas corridas, Francisco Novais do Vitória S.C,, ultrapassou-me na subida do Bela Cruz e eu apanhei a boleia e segui no ritmo dele. A meta estava ali à frente dos olhos! A dor tinha desaparecido e num último fôlego corria abaixo dos 4 minutos/km! Movido pelo incentivo dos amigos e do público entrei na recta final em sprint e ao cruzar a meta o cronómetro registou o fantástico tempo de 2h47m47s!
Concluí a minha 10ª maratona!
O vento não apareceu.
O paralelo não é muito amigo das minhas pernas.
Perdi na segunda parte da corrida 2m47s.
A dor que senti desapareceu e nunca mais deu sinais.
O objectivo foi largamente alcançado!
O meu record foi melhorado em 4m11s!
As últimas palavras são para os meus companheiros do N.A. TAIPAS. Dos 25 inscritos, 23 concluíram a prova, todos com excelentes tempos e cumprindo os objectivos que se tinham proposto. Quando em 2004, também no Porto, me aventurei na maratona juntamente com 6 amigos, estava longe de imaginar que volvidos 5 anos o movimento em torno da maratona atingisse tamanha dimensão.
Na classificação geral por equipas, O N.A. TAIPAS foi o primeiro entre as 25 equipas que pontuaram.
Estamos todos de parabéns!
Viva a maratona!
10 comentários:
Parabéns amigo Capela, que bonita história faz da sua prova, mesmo a parte de maior sofrimento tem o seu encanto, é uma luta contra a contrariedade física que teima em tramar-nos, vá-se lá saber que dor era aquela e que de repente foi embora no silêncio, tal como apareceu? A Maratona é pródiga na incerteza e a cada momento podemos ser traídos por algo que nunca esperamos e só a persistência, o querer e a garra de cada um consegue levar de vencida um desafio tão aliciante que é concluir uma Maratona dentro das previsões que julgamos ser capazes de conseguir.
Foi de facto fantástico a marca alcançada, o tempo meteorológico esteve de feição e está ligado intimamente ás boas marcas que muitos atletas alcançaram, entre os quais o meu amigo Capela. Dou-lhe os meus sinceros parabéns pelo recorde alcançado num percurso algo sinuoso na parte final, valorizando ainda mais este feito alcançado.
Abraço.
Amigo Capela
parabéns pelo excelente tempo obtido e pela já longa carreira de maratonista.
Parabéns igualmente pelo 1º lugar do NAT, notável a qualidade dos atletas presentes.
Boa recuperação.
Abraço.
Capela,
Felizmente que S. Pedro quis dar uma ajuda aos atletas e brindar-nos, a todos, com condições bem propícias para que pudessemos alcançar os nossos objectivos.
Parabéns pelo excelente prova e pelo magnífico record alcançado, bem como pelas capacidades de pregação que dás mostras pelas terras das Taipas. É que, à quantidade conseguiste juntar um nível qualitativo de elevada craveira, justamente brindado com a primeiro lugar colectivo.
Parabéns a todos!
abraço
MPaiva
Olá Zé,
Com esse magnifico record alcançado no Porto ficamos á tua espera em Roterdão.
Muitos parabéns!!
Beijo
Manuela
Olá Capela!
Excelente desempenho!
O trabalho deu os seus frutos, com o objectivo plenamente alcançado.
Felicito também a “grande” comitiva de Taipas que alcançou o merecido prémio. Grandes campeões!
Uma boa semana para todos,
Luís Mota
estas um monstro capela n sei onde vais parar, prova fantastica e finalmente atreveste te a bater o teu recorde em mais de 1 minuto de uma vez só (aahahahaah). Muitos parabéns penso que o tempo do Luis Mota vai ser o nosso farol para as proximas maratonas
abraço
paulo martins (leoes de kantaoui)
Olá Capela,
Que excelente prova apesar do contratempo nos kms finais! Muitos parabéns com a certeza de que vais continuar a somar records em todas as provas que participas.
Parabéns extensivos ao NA Taipas que dominou por completo as ruas do Porto e Gaia.
Grande abraço
Amigo Capela parabens de record em record se vai fazendo a tua carreira es um canpeao..
Manuel Mendes V.S.C
Muitos parabéns!
Uma prestação ao nível profissional!
Tudo em grande, Capela; da prova ao relato. No final da prova, quem andava lá a coxear era o próprio António Pinto.
Aquele abraço.
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