segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

50ª. Volta a Paranhos: A 'alma salgueirista' não morre!

O Sport Comércio e Salgueiros é talvez o clube mais popular da cidade do Porto. Segundo reza a sua história, foi fundado no longínquo ano de 1911, no tempo em que o futebol era jogado nas ruas pela miudagem de pé descalço e bola de trapos. Numa tarde de domingo desse ano, após assistirem a um jogo de futebol Porto-Benfica, um grupo de amigos tomados pela euforia do empolgante duelo entre águias e dragões, reuniu-se para fundar um clube que lhes permitisse desfrutar mais de perto a paixão do futebol. O que se julgava ser um impulso do momento foi a génese para que, por obra destes jovens apaixonados da bola, nascesse o Salgueiros, o mítico clube de Paranhos. Durante longos anos o 'velho salgueiral' como carinhosamente era tratado por simpatizantes e rivais, apesar de ser pequeno na sua dimensão, deixou um marca ímpar de tenacidade e espírio de luta no futebol português. A energia posta em campo pelos seus briosos atletas transformavam-no num gigante no confronto com os grandes clubes, ao ponto desta meritória atitude, dar origem à expressão: a 'alma salgueirista'! Um clube com esta história, não merecia que a incompetência de alguns dirigentes num passado recente, o levassem à ruptura financeira, delapidando o património e obrigando-o à extinção do futebol profissional. Nos dias de hoje, o Salgueiros mantém o futebol apenas nas camadas jovens, o pólo aquático, o andebol e atletismo, e com a humildade que lhe é tão característica teima em não se deixar morrer.

A Volta a Paranhos comemorou as 'bodas de ouro', é a segunda prova de atletismo mais antiga do país, apenas superada pela Estafeta Cascais-Lisboa, merecendo com toda a propriedade o nosso mais sonoro aplauso. Com as dificuldades e contrariedades que assolaram o clube nos últimos anos, estou em crer que se não fosse a verdadeira 'alma salguerista' do seu principal organizador, Silvestre Pereira, a Volta a Paranhos já há muito tinha desaparecido. Por tudo isto, foi inteiramente justo tanta gente associar-se à celebração desta simpática data e prestar homenagem ao Salgueiros por manter vivo este evento. Apesar de estar uma manhã fria e de nevoeiro, foi elevado o número de atletas que compareceu à partida, para através da corrida endereçar os merecidos parabéns ao popular clube portuense.

Aqueles que me acompanham, sabem que traço sempre objectivos para as provas que participo. Deste modo tento elevar a motivação nas corridas, de forma a superar eventuais quebras que possam surgir ao longo das mesmas. Obviamente que os objectivos definidos, terão de ser exigentes e realistas, se assim não for, em vez de alcançar a desejada motivação, poderia cair precisamente no contrário. No ano transacto, para estes mesmos 10 km de prova contabilizei o tempo de 37m34s, para esta edição coloquei a fasquia na faixa dos 37m00s-37m30s e foi com o espírito de atingir este propósito que iniciei a corrida. Como sempre, e devido à numerosa presença de atletas, que tornaram ainda mais apertada a zona da partida, logo que foi dado o tiro da largada, imprimi um ritmo mais forte e aproveitando a descida do primeiro quilómetro do trajecto, cruzei a placa que o assinalava com 3m30s. No segundo quilómetro já com uma ligeira subida e com o percurso a entrar numa rua plana, estabilizei o andamento nos 3m40s/km-3m45s/km e sem grandes oscilações fui engolindo os quilómetros, tanto a descer como a subir até ao final da prova. Nos derradeiros metros, motivado pelos aplausos do público que estava junto à meta, estiquei um pouco mais, terminando em sprint, com o cronómetro a registar o tempo de 37m12s. Fiquei agradado com o meu desempenho, após o fracasso da 'meia' da Nazaré este resultado foi um importante tónico para a minha motivação!

Apesar do frio da época e da quadra festiva que se avizinha convidarem mais a ficar em casa do que a sair para correr, não se acomodem e continuem a treinar - só treinando é que desfrutamos o prazer da corrida e fazemos com que esta seja também uma festa!

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Descobrir o prazer de...correr com o tempo que faz!

O outono chegou com um tempo bastante quente, mas a pouco e pouco começou a fazer a sua aparição, trazendo com ele as primeiras chuvas, as noites húmidas e as manhãs frias. Nestes últimos dias com as temperaturas a baixar muito, já se sente a proximidade do inverno.

Há muita gente que apenas faz exercício físico na primavera e no verão. Quando a folha começa a cair, ficam em casa a hibernar até à próxima época, preferindo o calor da lareira e o conforto do lar, a serem fustigados pelo tempo frio do parque. Obviamente, são opções respeitáveis. Mas também é bem verdade que é nesta altura que se consegue aferir os que verdadeiramente gostam da corrida. Aliás, os que já adoptaram a corrida como hábito de vida, costumam dizer a quem chega de novo, que só depois de sentirem na pele as agruras do inverno é que se podem considerar elementos da 'tribo'. Congratulo-me porque todos os anos tem 'sobrevivido' sempre mais um, contribuindo deste modo para que o nosso 'pelotão' seja cada vez maior!

Nunca fui adepto de ir para o ginásio correr na passadeira rolante. Sempre associei a corrida ao ar livre, assim correr ao sol ou à chuva, no frio ou no calor, de noite ou de dia, é desfrutar de um intercâmbio entre o ser humano e o que a natureza tem para nos oferecer a cada momento. Independentemente do tempo que possa fazer, correr é liberdade e prazer, jamais um sacrifício ou uma obrigação!

Como referi no último post, iria entrar num período de recuperação, dado que a Meia-Maratona da Nazaré deu-me indicações precisas sobre ser necessário abrandar o ritmo. Após alguns dias de descanso efectivo, recomecei os treinos com corridas suaves e mantendo esta actividade de relaxamento durante quinze dias. Agora irei aumentar um pouco a carga, mas sem estar preocupado com grandes resultados e é com este espírito que vou participar no dia 8 de Dezembro, naquela que é a mais antiga prova realizada em Portugal - a Volta a Paranhos, que este ano comemora a 50ª. edição. Evidentemente, eu não poderia deixar de estar presente nesta autêntica festa do atletismo.

Não se desculpem com o tempo, façam o favor de correr!

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Meia-Maratona da Nazaré: Sete saias e um 'estouro'!

A Nazaré tem as suas raízes muito ligadas ao mar. Os povos que aqui chegaram trouxeram não só as novas artes de pesca, mas também o mode de vestir. Assim, a pesca marca profundamente esta terra e noutros tempos a bravura dos nazarenos era reconhecida no domínio dos mares quando as tripulações de bacalhoeiros rumavam à Terra Nova. No entanto, a industrialização da pesca e a crise do sector contribuíram para a perda de importância desta actividade e nos dias de hoje esta vila é mais conhecida pela sua praia.

Quando se fala da Nazaré, é quase obrigatório falar das mulheres das sete saias, traje muito antigo, que ainda agora, embora um tudo ou nada alterado, é ostentado por algumas vendedoras de tremoços e pevides. As sete saias fazem parte da tradição, do mito e da lenda e diz o povo que representam sete virtudes: os sete dias da semana, as sete cores do arco-íris, as sete ondas do mar, entre outras atribuições bíblicas e mágicas relacionadas com o número sete. Na verdade ninguém sabe ao certo a sua origem, nem mesmo os muitos que se debruçaram sobre a matéria chegaram a conclusões convincentes. Todavia, existe um ponto em que todos parecem estar de acordo: este traje foi adoptado pelas nazarenas por influência da vida do mar. Quando os pescadores partiam para a sua labuta no mar, as mulheres faziam longas horas de vigília até eles chegarem e esperavam-nos sentadas no areal da praia, usando as várias saias para as protegerem do frio e da maresia que se fazia sentir durante a madrugada.

O sol rompeu por entre as nuvens e brindou a Nazaré com um magnífico dia para a corrida e até o vento que costuma fustigar os atletas junto ao porto de abrigo, desta vez fez questão em não comparecer. Os atletas do pelotão continuam a demonstrar grande carinho pela 'mãe das meias-maratonas' de Portugal e apesar de não ter a multidão de outros tempos, mesmo assim o número que alinhou à partida era muito significativo e se a estes juntarmos os participantes na caminhada e o numeroso público que na avenida da praia aplaudia os atletas, estava criado um clima de verdadeira festa do atletismo.

Os objectivos que tinha para a minha corrida eram claros: fazer cada 5 km em 19 minutos, o que daria um tempo final a rondar a 1h20m30s. Assim que a Rosa Mota deu o tiro de partida, tentei logo adoptar um ritmo muito próximo deste tempo, para depois poder estbilizar ao longo da prova. Após os primeiros kms corridos no interior da vila e à passagem dos 5 kms junto ao porto de abrigo o meu cronómetro marcava 18m52s, estava portanto dentro do planeado, mas confesso que não ia muito à vontade. Continuei dentro deste ritmo em direcção a Famalicão onde se procede ao retorno, aos 10 kms ainda ia no tempo estipulado, pois cruzei a placa que os assinalava com 38 minutos exactos, mas as pernas davam sinais que não iam aguentar este ritmo. A passagem dos sinais à realidade foi quase imediata e os kms que se seguiram foram de quebra notória, quando virei no retorno, nem mesmo a ligeira descida foi suficiente para tentar recuperar algo perdido. Quando dobrei os 15 kms, com o tempo de 58m45s, nem com uns colegas a passarem por mim e a motivarem-me para ir na 'roda' deles, conseguiram estimular-me, não havia nada a fazer, as pernas não tinham força, deixei-me ir no ritmo possível até à meta concluindo a prova com o modesto tempo de 1h25m06s.

Esta prova não vai ser para esquecer, mas sim para recordar os erros cometidos após fazer uma maratona. Nunca devemos descurar o descanso e a recuperação da 'prova rainha' do atletismo e se não atendermos correctamente a essas duas coisas essenciais, as pernas pagam a ousadia de desobedecer aos princípios fundamentais da restauração da energia do corpo. Assim, a 'mãe das meias' não embalou as minhas pernas para um óptimo resultado, antes pelo contrário, deu-lhes uma bela reprimenda e uma importante lição para o futuro, tal e qual o 'puxão de orelhas' que qualquer mãe dá ao filho quando este o merece!

Apesar de a um ritmo mais moderado...que continuem as boas corridas!!!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Porto, Nova Iorque e Nazaré!

Caiu o pano sobre a Maratona do Porto. Quando os objectivos que traçamos para a prova rainha do atletismo são atingidos, até parece que a recuperação é mais fácil. No dia seguinte à maratona, pela manhã, fiz uma caminhada muito ligeira e no final da tarde fui a um centro de massagens, entregar as minhas pernas a uma simpática e competente massagista que com umas mãos milagrosas as deixou como novas. Mais dois dias de caminhadas e confesso que no quarto dia já nem me lembrava que tinha corrido os quarenta e dois quilómetros cento e noventa e cinco metros. Assim, regressei à terra batida do parque das Taipas para correr, obviamente, devagar e não excedendo quarenta minutos. Continuei as corridas muito suaves e por períodos não muito longos, fazendo aquilo que entre os atletas se designa por 'descanso activo'. Quando passaram dez dias, progressivamente fui aumentando a carga e orientando o treino para ritmos mais rápidos, procurando readquirir a velocidade perdida com a preparação da maratona, pois avizinham-se novas corridas e é preciso estar em forma!

Durante este período deu-se uma feliz coincidência. O Teatro Oficina de Guimarães estreou a peça "Maratona de Nova Iorque", que como podem imaginar eu não poderia perder. Vim a saber que o autor, o italiano Edoardo Erba, é considerado um dos mais brilhantes talentos da sua geração e que "Maratona de Nova Iorque" foi produzida e levada a cena em muitas cidades do mundo. A peça é notável! Dois actores, a correrem sem sairem do sítio durante quarenta e cinco minutos, representam dois amigos, atletas amadores, que treinam à noite para dali a um ano fazerem a Maratona de Nova Iorque. Um é mais fraco, revela todos os seus medos, o outro tem mais certezas e entusiasmo, mas ambos estão unidos pelo esforço e pela fadiga comuns, tentando não desistir. Através das palavras ofegantes da corrida vão dialogando, muitas vezes utilizando o calão, revisitando o passado, desde as lembranças e as memórias pessoais, até um sprint final para o futuro. A maratona pode não ser uma metáfora da vida, mas a sua própria história, revivida por milhares de atletas amadores nas centenas de provas que se realizam em todo o mundo, é um pedaço de vida de cada um em busca da descoberta de si próprio.

O calendário das corridas não pára, o que é preciso é ter pernas! Para verificar se as minhas já se encontram totalmente recuperadas da 'estopada' da maratona, nada melhor que pô-las à prova! Todos os atletas do pelotão sabem que no segundo domingo de Novembro, na Nazaré, se realiza a mais antiga meia-maratona de Portugal e a quem todos carinhosamente chamam a 'mãe das meias-maratonas'. Esta vai ser a 33ª. edição, o que é sempre de saudar tão longa longevidade, sendo esta das provas que quem participa pela primeira vez promete voltar no ano seguinte. Pela parte que me toca assim o tenho feito desde que me iniciei no munda da corrida, pelo que domingo será a minha quinta participação consecutiva. Vamos lá ver se a 'mãe' embala as minhas pernas para um óptimo resultado.

Bons treinos, boas corridas!

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Maratona do Porto: Uma longa história feliz!

O despertador tocou às seis e meia da manhã, ainda o dia não tinha nascido. Levantei-me, tomei calmamente o pequeno-almoço: chá de cidreira, cereais e aletria. Vesti o equipamento de corrida, já preparado da véspera, e como ainda estava frio optei por levar um fato de treino um pouco mais quente. Em breve, estava já na padaria da esquina a tomar um café enquanto esperava pelos meus companheiros de aventura, que entretanto chegaram, para rumarmos ao Porto e darmos início à tão ansiada corrida para a qual nos tínhamos preparado com afinco ao longo de semanas a fio.

A viagem foi curta, dando apenas para trocar algumas impressões acerca da noite de sono, bem ou mal dormida, sobre os diferentes objectivos para cada um de nós, assim como o ritmo a adoptar durante a corrida, mas a boa disposição e a determinação em fazer uma boa prova era comum a todos.

Ainda era cedo quando chegamos ao Parque da Cidade, mas já eram muitos os atletas que por ali vagueavam e começa-se a sentir o ambiente da maratona. Os insufláveis, as tendas, as bancadas, o podium. Vou caminhamdo junto às grades da recta da meta e por breves instantes fixo o olhar no pórtico que ostenta o relógio electónico que está limpinho a 'zeros'. Não pude deixar de pensar que tempo iria ele marcar umas horas mais tarde, quando eu por ali passasse, seguramente exausto, faltando saber se feliz ou frustrado.

Coloquei-me numa fila composta por atletas e caminhantes de t-shirt vermelha e apanhei um dos muitos autocarros que nos levava até perto do Palácio de Cristal, onde juntamente com partida da maratona, um pouco mais atrás partia também uma mini-corrida de 6 km. Cumprimentei este e aquele, tirei uma foto e entre os ligeiros 'trotes' de aquecimento vamos desejando boa sorte uns aos outros.

O ciclista Cândido Barbosa dá o tiro da partida e lanço-me à estrada para dar início à 6ª. maratona da minha carreira.

Primeiro quilómetro
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Descontraído e calmo subo a Rua Júlio Dinis, contorno a Rotunda da Boavista, passo a placa do primeiro quilómetro e o meu cronómetro assinala 4m25s. Na Casa da Música tomo a Avenida da Boavista que nos brindava com uma ligeira descida para compensar a perda inicial e estabilizar o ritmo nos 4m8s/km pretendido.

Quarto quilómetro

Junto ao Estádio do Bessa, a estátua da pantera negra, símbolo do Boavista F.C., numa pose majestosa parecia observar os 'leões do asfalto' que seguiam dispersos ao longo da rua.

Sexto quilómetro

Ultrapassado o primeiro posto de abastecimento onde bebi uns golos de água e depois de dobrado o quinto quilómetro, em 20m47s, fiz o primeiro balanço da corrida. O ritmo estava bom, apenas não ia em grupo, mas como quer um pouco à minha frente como atrás de mim havia atletas, era muito provável e desejável que a qualquer momento se formasse um grupo, sempre muito importante para coroar com êxito uma maratona.

Oitavo quilómetro

Corríamos agora junto à Foz e ali mesmo onde o rio se encontra com o mar, estava já rodeado de cinco atletas, dois espanhóis e três portugueses, formando assim um sexteto ibérico, uma vez que após uma breve troca de palavras deu para perceber que perseguíamos tempos finais idênticos.

Décimo segundo quilómetro

Com a Ponte da Arrábida à vista, um ligeiro vento de frente começou a perturbar a nossa cadência, mas logo retomamos o ritmo desejado assim que passamos no local da partida da meia-maratona, prova paralela à nossa que iria partir dali a uns minutos. As centenas de atletas que aguardavam o início da sua corrida aplaudiram ruidosamente os maratonistas aquando da passagem.

Décimo sétimo quilómetro
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Em silêncio, mas sempre com espírito de entreajuda, o grupo mantinha-se compacto 'engolindo' os quilómetros com o passo certo. Atravessámos a Ponte D. Luís para Gaia e como que aproveitando a corrente do rio Douro deslizamos pela estrada fora até à Afurada.

Vigésimo primeiro quilómetro
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Imediatamente a seguir ao local de retorno. Ao passar por cima do tapete e ao som do apito dos chips, que indicava a passagem da meia-maratona, o meu cronómetro marcava 1h27m30s. Novo balanço - estava dentro do previsto, mas convinha ter presente que a corrida só ia a meio e as dificuldades só mais tarde costumam surgir.

Vigésimo segundo quilómetro

"Miguel, si quieres va-te! Io me quedo con estos compañeros." - disse um dos espanhóis para o outro. E o Miguel saltou do grupo e lá foi. Mas não foi sozinho! Outro elemento do grupo, um português, como que recordar a velha rivalidade ibérica, foi no seu encalço. O sexteto transformou-se em quarteto. Nós mantivemos o ritmo, os dois 'fugitivos' é que engataram uma mudança mais veloz.

Vigésimo quinto quilómetro

Os quatro 'mosqueteiros' continuavam a sua saga. 'Cavalgávamos' a 4m12s/km, alcançámos um grupo que ia em perda, onde reconheci a Aureliana, a vencedora da maratona da ano passado e o ousado português que 'teimou' em não deixar escapar sozinho o espanhol. O Miguel, como entretanto me disse o amigo do quarteto, era corredor de provas de 100 km e esse já ninguém o via!

Vigésimo sétimo quilómetro
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Voltamos a atravessar a Ponte D. Luís. Subitamente, deparamos com uma multidão que participava na já referida prova paralela: a meia-maratona, mas como eram os atletas mais atrasados, corriam a um ritmo muito inferior ao nosso, obrigando-nos a serpentear entre eles. Inevitavelmente, o nosso ritmo caiu! Perdi o controlo dos Kms porque não conseguia ver as placas que os assinalavam. Quase perdia o abastecimento dos trinta quilómetros. No meio de tanta confusão acabei por perder dois companheiros do quarteto. Fiquei apenas com um compatriota que aqui e ali insultava os 'arrastões' que nos surgiam no caminho. Confesso que por pouco perdia também de forma irreparável o controlo da corrida, pelo que aquilo que a organização provavelmente julgava ser uma ajuda para os maratonistas, revelou-se uma enorme dificuldade!

Trigésimo primeiro quilómetro

Depois de quatro quilómetros desgastantes e já com a estrada livre, lado a lado eu e o meu companheiro tentamos melhorar o ritmo e minimizar as quebras de tempo. "Amigo - ainda dá par baixar as 3 horas?" - perguntou-me ele. "Sim!!!" - respondi convictamente.

Trigésimo quinto quilómetro

O ritmo não era o dos quilómetros inicias mas tinha melhorado em relação aos do agoniante período de obstáculos. Uns golos na milagrosa bebida isotónica, renovam a energia e dão novo alento. Mas o meu companheiro queixa-se de cãibras, lamentou que já há dois anos tinha parado por ali com o mesmo sintoma! Um ciclista que seguia em cima do passeio foi a solução encontrada pelo meu companheiro: "Pá, vai-me arranjar gelo ali a um café!!!". E não é que volvidos umas dezenas de metros, o ciclista ofereceu um saco com gelo ao meu companheiro de aventura, que sem parar foi esfregando as coxas e exclamou que já estava bem!!!

Trigésimo oitavo quilómetro
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"Amigo!!! Ainda dá???" - pergunta novamente o meu companheiro. "Sim!" - Respondi, mas já com menos convicção que minutos antes. Por uns momentos pensei nas cãibras que o meu amigo falou, parecia que também estava a sentir algo idêntico, mas era apenas resultado da sugestão, do cansaço e do sol que também já se fazia sentir, alterando o discernimento.

Trigésimo nono quilómetro

Um amigo meu que assistia à prova, vendo-me em dificuldades, correu alguns metros ao meu lado, quando o meu companheiro ficou na dúvida e perguntou se virávamos logo ou ainda tínhamos de ir ao fundo. O meu amigo é que esclareceu - "São 300 mts, vira-se à direita e está quase lá!". Eu sabia que não era bem assim mas nem uma palavra pronunciei!

Quadragésimo quilómetro

2h49m21s...ainda dava para chegar antes das míticas 3 horas, mas não podia vacilar. O meu companheiro de tantos quilómetros quebrou e foi ficando para trás. Eu depressa me esqueci dele...que injustiça! No limite do esforço, a lei da sobrevivência é que dita as regras. Surgiu uma ligeira subida que não é muito acentuada, mas no momento pareceu-me o Everest. Inclinei o corpo para a frente e apelei a todas as forças que me restavam para ultrapassar o capricho do percurso sem quebrar.

Quadragésimo primeiro quilómetro

2h53m52s...oiço palmas e incentivos, galvanizo-me! O meu pensamento vê o relógio electrónico outrora parado, mas agora certamente não cessa de contar e eu não vou permitir que o primeiro dígito seja 3!!! Cerro os dentes e voo para a meta. Agora sim, estou na recta final e os números amarelos do relógio sempre a mudar, contudo sem a velocidade necessária para roubar a felicidade que me invadiu ao terminar!

Final

2h58m59s!!! Não foi um excelente tempo, porque já fiz melhor, mas não deixou de ser muito bom. Uma simpática menina colocou-me a medalha em volta do pescoço, respiro um pouco e enquanto saboreio este momento de felicidade, surge ao pé de mim o meu companheiro de tantos quilómetros. O sorriso dele confirmava que também tinha conseguido vencer as 3 horas, com uns escassos 46 segundos de folga. Trocámos algumas palavras alegres e cumprimentamo-nos efusivamente!

A maratona é uma prova verdadeiramente fascinante. Carregada de esforço e sofrimento, glória e desilusão. Que estranho mundo da corrida que uma ínfima fracção de tempo pode separar a euforia da frustração nos atletas do pelotão!

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Maratona do Porto: A contagem decrescente já começou...

Parece que ainda ontem comecei os treinos para a maratona e já se passaram onze semanas. Nem é preciso conferir no calendário para saber que falta pouco para chegar o dia da 'mítica corrida', pois o nervoso miudinho começa a fazer-se sentir, o que não me parece grave, pois mesmos os mais experimentados e já habituados à distância, também o sentem. Aliás, acho que o 'friozinho na barriga' é sinal que houve uma preparação prévia para a prova e sei bem que assim que for dado o tiro da partida desaparece num ápice!

Nestes dias que antecedem a prova analiso as minhas anteriores participações em maratonas, tentando fazer algumas comparações entre os estados de forma do passado e do presente, segundo as metodologias de treino aplicadas em cada uma das épocas. Acredito no trabalho realizado ao longo destas semanas, por isso vou partir para a corrida adoptando o ritmo para o qual treinei, procurando ser o mais regular possível ao longo dos 42.195 metros.

Numa maratona, diz-me a minha curta experiência que não são apenas as pernas que correm, a cabeça também desempenha um papel fundamental, é preciso estar preparado para não quebrar o ânimo, caso possam surgir eventuais contrariedades. Sem nunca esquecer o lema que me move - "Pior que não cumprir os objectivos, é não ter objectivos!" - domingo vou em busca do meu melhor tempo!

A maratona tem uma enorme carga simbólica, provoca fascínio entre os atletas do pelotão, transportando-os muitas vezes para momentos verdadeiramente épicos. Eu já senti quer a glória, quer a desilusão, sendo a distância que separa uma e outra, apenas de uns escassos minutos.



Até para a semana!

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Meia-Maratona de Ovar: Ensaio para a maratona.

Ovar engalanou-se mais uma vez para receber os cerca de 1.600 atletas que alinharam à partida da meia-maratona e os mais de 2.000 caminhantes da caminhada ecológica. Bem cedo já se sentia o clima de festa nas ruas da cidade, o colorido dos equipamentos de corrida dos inúmeros atletas misturava-se com o branco das t-shirts da multidão dos caminhantes, formando uma bela tonalidade capaz de rivalizar com os lindos azulejos dos monumentos locais.


O AFIS - Atletas Fim-de-Semana - está de parabéns por continuar ao fim de 19 anos, ininterruptamente, a organizar esta meia-maratona. Todos os atletas, desde os que lutam pela vitória até aos do pelotão, são unânimes em elogiar esta prova como sendo uma das suas preferidas, eu não fujo à regra, sendo da mais elementar justiça enaltecer o trabalho desenvolvido pelo AFIS, no atletismo e no fomento da prática desportiva.

A minha participação nesta meia-maratona, como é do conhecimento dos que acompanham as minhas crónicas, estava inserida no plano de preparação para a Maratona do Porto que se avizinha. Assim, o estipulado por mim era correr no ritmo que pretendo fazer a maratona. No final o meu cronómetro marcou o tempo de 1h27m06s, a uma média a rondar os 4m07s p/km., constituindo o meu último ensaio para a prova mítica do atletismo.

A maratona está à porta e muitas são as histórias que se contam em volta dela. Li um artigo na excelente revista brasileira sobre corrida, a O2, (http://revistao2.uol.com.br/) que resume muito do que eu penso acerca da prova rainha do atletismo, como tal vou partilhar com os meus leitores.


SETE MOTIVOS PARA CORRER UMA MARATONA

  1. O maratonista aprende a desenvolver metas e a organizar-se melhor.

  2. O treino longo pode ser uma positiva e construtiva forma de egoísmo. Naquele momento a pessoa aprende a fazer por ela mesma. Isso gera autoconfiança e segurança de saber que é capaz.
  3. Poder dizer "eu concluí". Não existe maior prazer que este. Na corrida, não importa se és o primeiro a chegar, se chegas no meio, ou se estás entre os últimos.
  4. Depois de uma maratona, tudo na vida fica menos complicado. Os problemas ganham proporções menores.
  5. É uma experiência de superação que pode ser levada para a vida profissional e pessoal.
  6. Treinar para fazer melhor é a mais saudável forma de competição.
  7. Muitas pessoas correm para relaxar da realidade; outras para provar a si mesmas que são capazes; e algumas para encontrar os próprios limites.
Motivem-se e treinem, mas nunca se esqueçam de escutar o corpo - no momento o meu vai-me dizendo que é preciso moderação!

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Meia-Maratona Sport Zone: 'Pontes' para a maratona.

Estava uma manhã linda, o sol brilhava sobre as cidades do Porto e Vila Nova de Gaia. Uma onda laranja percorreu as margens do Douro, quando cerca de 1.000 atletas correram a meia-maratona e uma impressionante moldura humana a rondar os 11.500 participantes, a caminhar ou a correr na mini-maratona (6 km) deram um imenso colorido ao evento. Foi um excelente dia para a divulgação da modalidade e também para a solidariedade, pois por cada participante a Sport Zone ofereceu 0,50€ à Casa do Caminho, instituição portuense que acolhe crianças vítimas de maus-tratos.

Correr junto ao rio Douro, poder desfrutar da paisagem envolvente onde as pontes que unem as duas cidades sobressaem ao longo dos quilómetros percorridos, é motivo mais que suficiente para participar nas provas que ao longo do ano aí se realizam. Será também esse o palco da Maratona do Porto do próximo dia 21 de Outubro.



Dar continuidade ao caminho que tem como objectivo central a maratona - foi esse o espírito com o qual me apresentei na que foi a minha 35ª. participação em meias-maratonas. Assim, esta corrida coincidiu com o encerramento do 2º. ciclo de treino e, como referi na crónica anterior, seria um excelente teste para avaliar a condição física em que me encontro. No final da prova o meu cronómetro marcou 1h20m59s, foi um autêntico contra-relógio individual, pois corri sozinho a partir dos 3 km até à meta! As conclusões que retirei da minha prestação deixam-me optimista e com o moral elevado para obter um bom resultado na maratona.

Mas as maratonas são como os melões, só depois de os abrirmos é que sabemos se são bons - as maratonas só lá para os 35 km é que sabemos se realmente a preparação foi a melhor.

O último período de treino que agora iniciei, pressupõe que se chegue a esta etapa num estado de boa condição física. A carga de treino diminui de forma que não sejam gastas, inutilmente, as reservas que irão ser tão necessárias no dia da maratona. Neste sentido, o treino irá ser orientado para que haja uma habituação ao ritmo da prova, dando ênfase neste período à corrida contínua, ao ritmo da maratona e ao treino fraccionado. É neste contexto de preparação que no próximo dia 5 de Outubro irei correr a 19ª. Meia-Maratona cidade de Ovar.

Apesar de ser preciso uma pontinha de sorte como nos melões...Treinem sempre!

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Maratona do Porto: O treino já vai a meio...

A expressão "O tempo passa a correr!" é daquelas que faz todo o sentido quando aplicada a um atleta. Parece que ainda ontem comecei os treinos para a maratona e este domingo concluí um mês e meio de preparação, dos três que irei efectuar. No entretanto, houve ainda tempo para gozar umas curtas férias, apenas no que diz respeito ao trabalho, dado que a corrida é exigente e não dá descanso, com a agravante de quando se prepara uma maratona, 'esquecer-se' de treinar pode comprometer as aspirações de cada um. Assim, a linda paisagem da Costa Vicentina, na fronteira entre o Alentejo e o Algarve, Odeceixe foi testemunha de algumas dezenas de quilómetros que as minhas pernas percorreram, com o pôr-do-sol e o azul do oceano Atlântico como espectadores deslumbrantes.


Vista sobre as praias de Odeceixe e da Arrifana.

O primeiro mês de treino, conforme já aqui escrevi, ocupou-se da adapatação e criação de base de treino, de forma a entrar no segundo mês ou designado período fundamental, em boas condições físicas. Este período intermédio é aquele em que a carga de treino atinge o seu máximo em termos de quantidade. Nesta fase o principal objectivo é correr longas distâncias, para que o corpo pouco a pouco se habitue à maratona, ao mesmo tempo que se educa o organismo a consumir, preferencialmente, as suas reservas de gordura.

Na semana que acaba de terminar, contabilizei 105 km de treino, sendo aquela em que o número de quilómetros foi o mais elevado, realçando o treino longo deste domingo que chegou aos 33,5 km, cumprido em 2h30m. Nos restantes dias, às segundas, quartas e sextas, o treino é preenchido com corrida contínua em ritmo lento, durante 60, 70 e 45 minutos nos dias referidos. As terças e as quintas são dedicadas a sessões de séries, respectivamente a séries curtas e longas. O sábado é reservado para a corrida a ritmo progressivo, umas vezes de 40 minutos outras de 50.

O período fundamental vai terminar no dia 23 de Setembro, data em que participarei na Meia Maratona Sport Zone, com a particularidade de realizar-se num percurso ao longo do rio Douro, tanto do lado do Porto como de Vila Nova de Gaia, tendo pontos em comum com o trajecto da Maratona do Porto, o que além de ser interessante para a adaptação ao piso, será também um excelente momento para avaliar a condição física em que me encontro.

Quando nos entregamos a uma causa e o fazemos com prazer, o resultado é certamente muito mais eficaz, pelo que continuemos a correr e a sorrir, desta forma, mesmo quando o suor nos escorre pela face e o rosto exprime alguma fadiga, o nosso olhar nunca perderá o brilho!

Vale de Figueira. Eu e o Mariz, a pensar que tinhamos 28 km para correr!

Continuação de bons treinos!

quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Maratona do Porto: A primeira semana de treino.

Está cumprida a primeira semana de treino. Durante o mês inicial, dos três de preparação que irei fazer até à maratona, denominado por período de adaptação, os principais objectivos são:
1) Conseguir uma boa condição física,
2) Habituação à carga de treino,
3) Construção de base de treino aeróbico.

Assim, efectuei corrida contínua lenta, entre os treinos mais intensos de rampas e séries. No sábado, corrida contínua a ritmo progressivo e no domingo o treino longo que, para começar, atingiu os 22 km, incluindo dois períodos de 3 km e 4 km ao ritmo que pretendo correr a maratona e os restantes a um ritmo mais suave. Na primeira semana foram contabilizados 82 km de treino de corrida, que juntando os imprescindíveis exercícios de flexibilidade e alongamentos, consumiram um tempo total de cerca de 8 horas.

Durante os treinos tenho companhia de outros atletas que também se preparam para a aventura da maratona. Cada um treina ao seu ritmo, mas todos unidos pelo prazer de correr, transpiramos muita alegria e boa disposição nos treinos. Nem as altas temperaturas que se fazem sentir nesta época conseguem retirar-nos o sorriso nos lábios, apenas acrescentar-lhe um toque particular de suor.

Continuação de bons treinos!