Enfim, chegou o dia da Maratona de Lisboa ou para ser mais preciso a Gold Marathon Carlos Lopes, que contava ainda no programa um Bike Tour e uma corrida de 5 km designada Atletismo Solidário. Quando no domingo de manhã, por volta das 7h45m, cheguei ao Casino do Estoril, onde ia ser dada a partida verifiquei que o número de participantes anunciado pela organização, já por si não muito famoso, estava bastante inflacionado. Nada que me surpreendesse!
Enquanto procedia ao aquecimento, e como efectivamente éramos poucos, foi fácil encontrar os companheiros da blogosfera que também se iam lançar nesta aventura, respectivamente o Luís Mota, depois o Fernando Andrade, o António Bento e o Nuno Cabeça. As palavras de circunstância habituais e o desejo sincero de boa sorte para todos.
Os meus objectivos para a corrida eram claros. Melhorar o meu tempo na distância (2h54m15s - Porto 2008) apontando para um tempo final de 2h52m. No entanto, e como me sentia bem, se por ventura conseguisse um grupo poderia ousar chegar dentro das 2h50m. As condições meteorológicas contribuíam com a sua parte, uma vez que o tempo estava nublado e fresco, excelente para correr.
O tiro da partida foi dado e como eram tão poucos os atletas não precisei de correr mais de 200 metros para verificar que não iria integrar nenhum grupo, ou seja, ia fazer uma maratona completamente entregue a mim próprio e ao meu cronómetro. O desafio era manter um ritmo estável e tentar concluir a prova nas 2h52m. Para mim esta maratona foi atletismo solitário!
No entanto, estava preparado para isto, aliás já me tinha mentalizado ao longo da preparação da maratona para esta eventualidade, como bem sabem os meus leitores mais atentos. Assim, fui galgando os kms apreciando a magnifica paisagem da Costa do Estoril, o mar e o encontro com o Tejo, num abraço junto à Torre de Belém.
Foi com o prazer de um miúdo que corre sozinho - pelo meio da estrada que nos outros dias está entupida de automóveis barulhentos mas que hoje era toda dele. Entro na baixa de Lisboa, junto ao edifício da Câmara Municipal, sigo pelo meio do empedrado do trilho do eléctrico, como se fosse eu o próprio eléctrico. Tomo a Rua Augusta onde alguns incentivavam, mas a maioria das pessoas estavam mais preocupada em ver as montras e olham com indiferença para mim. Retribuo-lhes com um sorriso e triunfantemente entro no Rossio onde um aglomerado de pessoas olha para uma grua que está a colocar um painel publicitário e nem deu pela minha presença. Contornei a praça e não escutei uma manifestação de apoio, apenas um bando de pombas que estavam pousadas, levantaram voo à minha passagem!
Um agente da autoridade, quase por favor, indicou-me o caminho, entrei no Terreiro do Paço onde imperava o silêncio e eis-me de novo na larga avenida de acesso ao Parque das Nações. As pernas já tinham engolido 30 kms e o ritmo continuava imperturbável dentro dos 4m5s/Km e eu continuava a divertir-me com o desafio que ia mantendo comigo próprio.
Logo a seguir a Santa Apolónia, surgiu o momento cómico da corrida. Numa paragem de autocarro com meia dúzia de pessoas. Uma mulher, que estava sentada, levantou-se e chegou-se para o meio da avenida como que dirigindo-se a mim. Pensei com os meus calções: "finalmente vou receber um aplauso". Mas não. - "Ó senhor, sabe se há autocarros?" - Nem lhe respondi e a mulher recolheu, decepcionada, à paragem resmungado - "Ao menos podia dizer qualquer coisa"! Continuei a minha corrida mas não pude deixar de esboçar novamente um sorriso.
O tempo foi passando e em breve estava a entrar no Parque das Nações, onde faltavam sensivelmente 3 kms para o final e as pernas não vacilavam, pelo que o objectivo 2h52m estava pronto para ser alcançado. A recepção do Gil de braços abertos contrastava com perspectiva de mudança de terreno, anunciando que ainda iria ter de sofrer um bocadinho, é que nas maratonas não há glória sem sofrimento. Na verdade, aquele empedrado até à meta, onde os arquitectos da Expo'98 quiseram misturar a antiga calçada portuguesa com a modernidade do Pavilhão de Portugal e do Pavilhão Atlântico, não foi concebido a pensar em maratonistas.
Aqui sim, tive que cerrar os dentes e transformar-me um pouco em Pheidippides e correr até à meta com os músculos em autentica vibração para, pelo canto do olho, conferir o cronómetro da chegada e ultrapassa-lo quando este assinalava 2h51m59s!
(1ª 'meia' 1h25m48s - 2ª 'meia' 1h26m11s => Diferença 23s)
Resultado: Pernas para que te quero, 1 - Atletismo solitário, 0.
Comentário inevitável - O comum dos portugueses só liga ao futebol. Para a maioria, a maratona é uma corrida, da qual não tem noção nenhuma do tempo que demora e sabem lá quantos kms são...
Satisfeito por ter cumprido mais uma maratona, recordo o famoso comentário: "E o burro, sou eu?!"
Fica aqui prometido que em Novembro, na Maratona do Porto, o objectivo é baixar das 2h50m!
16 comentários:
Olá Capela!
Muitos parabéns pelo resultado alcançado.
Votos de boa recuperação,
Luís mota
Grande amigo Capela es um verdadeiro maratonista um papa quilometros..parabens...sabes que no porto estou contigo para lutar mais uma vez contra o relogio e vamos galgar sabendo que pode ser 2h 46,48,49m nunca mais que isto
um abraço
Amigo Capela
os meus parabéns pela maratona e pelo excelente resultado, notável a regularidade das 2 "meias".
Boa recuperação.
Abraço,
António Almeida
Muitos parabéns Capela.
Foi pena (ou não)terem sido poucos os aventureiros nesta Maratona, mas o importante foi teres corrido com prazer e conseguires o teu objectivo.
JCBrito
Amigo Capela,
Muitos parabéns pelo brilhante resultado alcançado numa corrida contra o relógio e contra a indiferença de quem via passar os atletas!
O excelente tempo conseguido é o justo prémio para a preparação que fizeste e para a entrega que tens demonstrado à corrida!
abraço
MPaiva
Grande Capela !
Solitariamente vitorioso.Vitorioso e...recordista.
Parabéns.
Só é pena é que esta Maratona, que tinha tudo para ser a grande maratona de Portugal, tenha sido tão pobrezinha.
Ainda estamos à espera dos resultados. Claro que cada um sabe o seu,mas ninguém resiste a uma "panorâmica geral".
Foi um prazer revê-lo amigo Capela e não esqueço aquele seu incentivo nos últimos metros que estavam a ser penosos.
Grande abraço
FA
Olá Zé,
Que prova impecável!
Correste sózinho mas acompanhado pela vitória do teu novo record pessoal. E o facto do público ser tão indiferente que se lixe o teu objectivo foi atingido e é o que conta.
Parabéns
Manuela
Adorei aquela da paragem de autocarro... é uma boa caricatura do que presenciámos no domingo.
Parabéns pela grande prova (quase even split) e pela capacidade de sofrer só.
E já agora... obrigado pelas palavras de apoio
PS. O Porto para mim já está marcado no calendário
Muitos parabéns Capela!
Abraço
Olá amigo Capela.
Parabéns pela excelente prova que realizou. Só revela a excelência do conhecimento que tinha acerca da sua condição física antes da partida. Os treinos que terá feito em solitário também ajudaram a superar o isolamento durante o esforço em toda a prova, o que é notável.
Em termos de assistência, Lisboa é o pior local para se correr, existe uma terrível ignorância por parte dos lisboetas no que diz respeito à corrida. Daí uma consequência directa a justificar porque é que os patrocínios se tornam cada vez mais escassos. Noutros eventos idênticos são as transmissões televisivas que vão salvando as organizações, senão viveriam com as mesmas dificuldades.
Salvou-se o excelente recorde que conseguiu, e as peripécias que foi encontrando ao longo do percurso.
Um abraço.
Parabéns Amigo Capela
Grande feito, excelente recorde.
As 2h50m estão por um fio, claro!
Foi um prazer conhecê-lo. E obrigado pelo incentivo nos momentos mais duros, já no "calçadão" da expo.
Força nessa recuperação.
Abraço
AB - Tartaruga
Parabéns pela prova e pelo relato, que se pode classificar de algo em torno da tragicomédia.
Efectivamente, depois de ter corrido uma maratona como a de Boston, onde ao longo dos 42195 não houve 1m sem cordão humano de ambos os lados, eu acho que teria chorado se me tivesse deslocado à Maratona Carlos Lopes, e estou seguro de que não a conseguiria terminar.
A estupidez e desprezo são grandes, neste paizeco onde o grande feito foram os descobrimentos (que aconteceu há mais de 500 anos e só porque a supremacia dos espanhóis nos empurava para a água e nós lá fomos atirando com os condenados para as barcaças)ou, mais recentemente, o futebol (onde nunca ganhamos nada) e fátima, essa alucinação colectiva fruto da exploração da fértil imaginação de umas pobres ciranças subnutridas.
"consolida, filho, consolida", como dizia o outro.
Um muito grande abraço.
Amigo Capela,
Não posso deixar de lhe dar os parabéns por este seu "feito", ainda mais nas condições adversas que relatou.
Mais do que vencer o relógio, venceu a luta contra a indiferença, que também é difícil.
Continue e conviva e goze com a sua "glória", que pelo esforço que tem feito bem merece.
José Alberto
SOUSA NAT:
Parabéns amigo pela exelente prova que efectuaste não me supreedeu em nada u te resultado sei perfeitamente das tuas capacidades.e não tenho duvida alguma que na proxima maratona baixas das 2h50,porque quem corre no deserto,e capaz de todo não dúvido
PARABÉNS A TODOS.
capela,
não consegui muitas informações da maratona carlos lopes
gostaria de 'copiar' seu post para dar infromações aos brasileiros.
tudo bem?
valeu!
nadais
Olá, adorei seu relato sobre a maratona, parabéns por tua conquista e determinação... Na verdade o nosso maior concorrente durante a maratona é nós mesmos, não importa quem esta na prova e sim como estamos preparados para a prova. Sem dúvida alguma a tua superação de querer baixar o tempo de prova foi a tua vitória. Isso prova que podemos superar barreiras... limites... e nos leva a pensar que se "EU QUERO... EU POSSO"...
Eu também sou maratonista e adoro desafios, entrei nesse mundo de corridas há 2 anos e já irei completar a minha 9ª maratona no dia 27 de setembro de 2009. Também quero baixar o meu tempo e pretendo fazer em no máximo 2'55. Uma coisa é certa só vai depender de mim.
Quando puder visite o meu blog.
Abraço, bons treinos.
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