“O Caminho começa na porta da tua casa.”
Segunda-Feira,20 de Agosto.
Pouco passava das oito horas da manhã quando cheguei à Casa da Criança. Uma colaboradora convidou-me a entrar, cumprimentou-me simpaticamente e desafiou-me a subir, porque a casa já tinha acordado e as crianças já estavam nas suas rotinas - acordar, tomar banho, vestir e tomar o pequeno-almoço. Acompanhei-a enquanto ia abrindo as janelas dos quartos e saudava de bom dia todos os petizes que já estavam acordados e bem despertos para a brincadeira.Numa das salas, já de banho tomado e a ser hidratada, estava uma menina de sorriso traquina, olhos escuros, pele de ébano e cabelos aos caracóis - a pequena Diana. Entusiasmada, liderou o diálogo:
- Olá! Tu para onde vais?
- Eu vou correr, Diana!
- Ahhh! Eu vou para a piscina! Eu sei dar muitas cambalhotas, sabes?!
- Muito bem, Diana!
Pouco passava das oito horas da manhã quando cheguei à Casa da Criança. Uma colaboradora convidou-me a entrar, cumprimentou-me simpaticamente e desafiou-me a subir, porque a casa já tinha acordado e as crianças já estavam nas suas rotinas - acordar, tomar banho, vestir e tomar o pequeno-almoço. Acompanhei-a enquanto ia abrindo as janelas dos quartos e saudava de bom dia todos os petizes que já estavam acordados e bem despertos para a brincadeira.Numa das salas, já de banho tomado e a ser hidratada, estava uma menina de sorriso traquina, olhos escuros, pele de ébano e cabelos aos caracóis - a pequena Diana. Entusiasmada, liderou o diálogo:
- Olá! Tu para onde vais?
- Eu vou correr, Diana!
- Ahhh! Eu vou para a piscina! Eu sei dar muitas cambalhotas, sabes?!
- Muito bem, Diana!
Pouco depois da badalada das oito e meia da Igreja de
Nossa Senhora da Oliveira, em pleno centro histórico de Guimarães, iniciei a
minha viagem rumo à Catedral de Santiago de Compostela. Subi a rua D. Maria,
passei no Largo da Mumadona, subi pela parte lateral do Castelo de Guimarães seguindo
pela estrada nacional até entrar na ciclovia, construída na antiga linha do
caminho-de-ferro que ligava Guimarães a Fafe. Estava um dia de sol bonito, que
prometia calor, ainda com poucos kms nas pernas e já adaptado aos 4 kg que carregava às costas na
mochila, tinha já uma certeza enorme: A pequena Diana também ia na bagagem e ia
ser minha companhia nesta longa peregrinação.
Depois de chegado a Fafe, abalei por estradas
secundárias em
direcção a Lagoa e decidi fazer uma pausa, junto à Capela da
Senhora das Neves, pois já contabilizava quase 30 kms - estava na hora do
almoço e temperatura já era superior a 30 graus!
Aviei uma sopa de couves, uma massinha com carne e
duas maçãs numa mesa de pedra que tinha debaixo de uma árvore, já que o
interior do ‘snack-tasco’ estava repleto de emigrantes que comunicavam entre si
aos gritos num dialecto que era uma mistura de português e francês, com
predominância dos típicos palavrões do norte de Portugal.
No terreiro da Senhora das Neves preparavam com afinco
a romaria da santa que se iria realizar no fim de semana, sendo que nos
altifalantes colocados junto aos sinos da capela o Quim Barreiros, com os
decibéis no máximo, lá cantarolava o “ponho o carro, tiro o carro, à hora que
eu quiser… que garagem apertadinha, que doçura de mulher…” - o Minho no seu
melhor!
Eram umas quatro e meia, o calor ainda era muito, mas
aquela sonoridade que poluía os meus ouvidos não era a melhor, pelo que resolvi
arrancar rumo a Salto. Num ápice cheguei a Aboim e depois ia enfrentar uns 15
kms desertos, abasteci-me bem de água e enfrentei a serra, onde vi ovelhas,
cabras, cavalos selvagens, mas pessoas nada! Depois de ter chegado novamente à
civilização, ou seja, ao atravessar a estrada nacional Póvoa de Lanhoso –
Cabeceiras de Basto, passei pela Igreja de S. Nicolau, em Gondarém e fiz uma
breve pausa numa mercearia, para me abastecer de água e comer umas bananas que
a senhora simpaticamente ofereceu, dizendo que estavam demasiado maduras e que
se iriam estragar.
O primeiro dia estava concluído com 66 kms nas pernas e8 litros
de água consumidos! Depois de um duche retemperador e de ter comido umas
quantas batatas cozidas com peixe grelhado atirei-me para a cama para o
merecido descanso!
Depois desta aldeia ia enfrentar mais uns 10 kms desertos subindo até Busteliberne. O calor continuava mas o arvoredo junto aos caminhos municipais atenuava um pouco o estio. Depois desta escalada, continuei
a correr a um ritmo moderado, apreciando o quanto é maravilhoso estar no alto
da serra e ver o mundo de cima. Lembrei-me da pequena Diana e que talvez ela
gostasse de dar cambalhotas ali no alto! Com estes pensamentos e
entusiasmado por esta mágica visão, estava a chegar a uma aldeia que eu julgava
ser Torrinheiras, mas encontro uma placa a dizer Porto de Olho! Por sorte
estava um lavrador junto a um casebre, dirigi-me a ele e perguntei como ia para
Torrinheiras e quantos kms distanciava de ali. Apontou-me a direcção, porque
nas aldeias ninguém diz se é direita ou esquerda e disse que seriam uns 3 kms.
Numa primeira fase fiquei aborrecido com o engano, mas depois até achei que
valeu a pena, pois Porto de Olho era um nome fantástico e que definia na
perfeição a bela paisagem com que os meus olhos eram brindados! Finalmente, cheguei
a Torrinheiras, desci até à estrada nacional Montalegre – Cabeceiras de Basto,
a noite começava a cair, mas estava apenas a 6 kms de Salto e do Restaurante
Borda D’Água, onde a Dª. Maria me ia dar comida e dormida.
O primeiro dia estava concluído com 66 kms nas pernas e
Terça-Feira,
21 de Agosto.
Acordei bem cedo como aliás é meu hábito. Preparei a
mochila e estava pronto para logo que a Dª. Maria abrisse o estabelecimento eu
pudesse tomar o pequeno- almoço e fazer-me à estrada. Todavia às sete horas
ainda estava fechado e tudo muito silencioso. Como no dia anterior, na
passagem, tinha visto uma padaria fui para trás ao seu encontro. Aviei quatro
pães com nutella molhados por um chá
e a seguir tomei um café. Neste entretanto, os clientes que aí chegavam tinham
uma opção de pequeno-almoço bem diferente - ou era cerveja com croissants ou vinho do porto fresco com
bolas de berlim!
Acertadas as contas com a Dª. Maria e depois desta me
ter dado uma data de maluco por ir a correr até Boticas, eram umas oito e um
quarto quando dei início ao segundo dia da viagem. A estrada de Salto a Boticas
é um carrossel de subidas e descidas, tem um bom piso, mas é quase totalmente
deserta de casas - não fossem os carros dos emigrantes que de vez em quando
passavam, a estrada estava por minha conta. Por artes do progresso as
auto-estradas chegaram a Trás-os-Montes e a crise ainda não devolveu o trânsito
às estradas nacionais. Num ritmo controlado, porque o calor começava a apertar,
fui galgando kms e kms, sempre com a preocupação de me hidratar bem. Com cerca
de 24 kms nas pernas e a temperatura a rondar os 30 graus a água começou a
escassear, mas estava confiante que iria aparecer a qualquer momento uma casa
ou um café na beira da estrada para eu poder abastecer os cantis da mochila.
Mas nada, deserto autêntico, apenas o alcatrão que rasgava a serra do Barroso! Saltou-me
à memória mais uma vez a pequena Diana e que, seguramente, com aquela tenra
idade já tinha ultrapassado dificuldades muito piores!
Estava entretido com os meus pensamentos até que, ao
longe enquanto descia, avistei um pequeno tractor na berma da estrada. Alto -
ali deve haver gente! Quando me aproximei estava um rapaz a tomar conta de umas
vacas que por ali andavam. Perguntei-lhe se havia algum café junto à estrada
ali próximo – ele respondeu que havia um restaurante a seguir a um altinho, mas
que ainda faltavam uns 3 kms! A notícia não podia ser melhor pois estava mesmo
a ficar nas lonas de água! Lá fui controlando os kms à espera do altinho e do
fim dos 3 kms, no entanto para um transmontano, um ‘altinho´ é uma subida
generosa e o meu informador enganou-se num km. Menos mal!!
Entrei no restaurante, bebi uma água, abasteci os
cantis e perguntei ao senhor que estava atrás do balcão quantos kms eram até
Boticas. Disse-me que eram seis mas que já não subia mais, que aliás até ia
começar a descer muito, pelo que eu em 20 minutos me punha lá e ainda apanhava
fresquinho na cara! Tive de lhe esclarecer que vinha de Salto a correr, que
não estava de bicicleta!
- Porra!
Você é maluco! Olha a correr com este calor, aproveite a boleia aqui de um
cliente que vai sair agora para Boticas e “num seja doudo”!
- Obrigado por tudo mas vou fazer-me novamente à
estrada!
Nem arrisquei dizer-lhe que ia até Santiago de
Compostela! Lá fui avistando Boticas do alto e fui descendo com cautela, a
descida era demasiado acentuada que até cheguei a pensar que se calhar o melhor
era subir!
Parei na Câmara Municipal de Boticas com 33 kms nas
pernas, um escaldão valente no lombo e quatro horas e quinze minutos de
corrida!
Entrei no primeiro restaurante e perguntei o que tinha
para comer.
- Sabe? Já passa um bocadinho da hora do comer, mas
ainda temos jardineira.
Marchou a jardineira e depois fui para uma sombra
descansar. Mas mesmo à sombra estava quente, 35 graus disseram-me depois!
Sentado na relva ia observando a praça envolvente, até que numa casa antiga
vejo escrito Biblioteca Municipal. Nem hesitei, entrei na biblioteca e pedi à
menina que estava no atendimento se podia descansar ali um bocadinho.
Expliquei-lhe para onde ia e que estava a fazê-lo também por uma causa. Recebi
o primeiro elogio e indicou-me um corredor que tinha um sofá muito confortável
junto à sala infantil.
Mais uma vez a pequena Diana assolou-me ao pensamento
- podia ler-lhe uma história ou ela rabiscar um desenho para mim!
Por ali descansei deliciosamente durante 3 horas, sem
esquecer a imprescindível hidratação! Para tentar minorar os efeitos do calor,
arranquei pouco passava das cinco e meia. Pelas minhas contas para chegar a
Chaves eram 20 kms e tinham-me dado a informação que era ‘plaino’ pelo que ia
gerir o esforço e controlar o ritmo de modo a completar a etapa em cerca de
três horas. Curioso é que como a malta agora só anda de carro, não faz a mínima
ideia do que é subir e descer, aliás os primeiros 4 kms foram sempre a subir e
depois ora subia, ora descia, obviamente nada de grandes oscilações - mas daí
até ser “plaino” ia uma diferença muito grande!
Cheguei a Chaves a noite estava a cair e em vez dos 20
kms anunciados tive que correr mais 2,5 Kms, nada de grande importância para
quem totalizou no fim desta jornada quase 56 kms, muitos deles num clima
bastante adverso! Arranjei rapidamente poiso e depois do duche tomado, também
foi simples encontrar uma pizzaria para comer uma boa dose de esparguete, para
de seguida cair na cama para dar o justo descanso ao corpo!
O despertador tocou às seis e meia da manhã e às sete já estava numa padaria a comer umas três sandes de pão com marmelada, regadas com chá de cidreira e para rematar um café. Estava determinado em começar bem cedo – atleta escaldado do calor tem medo! Sabia que este dia seria mais calmo e com menos kms que os dias anteriores, no entanto ainda faltavam mais de 200 kms para chegar a Santiago.
A partir de Chaves já existiam as setas amarelas do
caminho, mas convinha não me deixar levar pelo entusiasmo e embarcar em ritmos
muito fortes! Não havia sol, o tempo estava fresco, segui por um caminho
pedestre em terra de um parque junto ao rio Tâmega e fui deixando a cidade para
trás. Entrei em estradas municipais em direcção à aldeia de Vilarelho da Raia
que, como o nome deixa adivinhar, fica a dois passos de Espanha. Nesta povoação
parei num centro comunitário onde me colocaram um carimbo na minha credencial e
pela primeira vez ouvi as palavras - Bom Caminho!
Já em
território espanhol vejo no caminho o primeiro marco em pedra com o azulejo da
concha indicando o caminho.
Uma
vez mais a pequena Diana ocupou-me o pensamento e transportou-me até à minha
infância - Como eu gostava de ir a Espanha com os meus pais comprar aqueles
caramelos que se pagavam aos dentes!
O sol só abriu quando eu já tinha uns 17 kms nas
pernas pelo que já estava mais de meio caminho andado nesta etapa. A construção
das auto-pistas provoca danos no caminho, retiram a sinalização e não a
recolocam! Senti-me um bocadinho perdido, mas acabei por encontrar sempre o
rumo certo. O progresso é inimigo do caminho, mas Santiago ajuda! Finalmente,
cheguei ao Albergue de Verin percorrendo 29 kms em cerca de 3 horas desde Chaves,
confesso que sem grande desgaste!
Depois de um almoço de patatas cocidas e uma chuleta de ternera, fui descansar para
um parque junto ao rio Tâmega, que ficava nas proximidades do albergue, local
por onde iria continuar o caminho. Deitei-me na relva, à sombra de uma árvore e
antes da partida ainda estive com as pernas de molho nas águas do rio. Observando
as crianças que no rio chapinhavam
alegremente, recordei novamente a pequena Diana e o seu sorriso quando me disse
que ia para a piscina! Como a etapa não ia ser muito longa, parti
quando eram umas seis e meia e o sol já não queimava tanto. Os primeiros 6 kms
foram percorridos numa estrada nacional, mas depois entrei em caminhos
agrícolas, em terra umas vezes, por entre milheirais, outras por entre montes,
o que me deu um certo gozo e um cheirinho a trail!
Já tinha ultrapassado os 10 kms quando me cruzei com
um agricultor e num portunhol irrepreensível perguntei-lhe quanto faltava para
Laza. Respondeu: 7 kms! Ao que retorqui: Gracias!
300 metros mais à frente cruzei-me com outro agricultor e repeti a mesma
pergunta, sendo que a resposta deste foi: 5 kms! Nestes casos o melhor é fazer
a média, pensei para as minhas pernas! Cheguei ao Albergue de Laza ainda era
bem de dia, em cerca de duas horas e meia para cobrir os 19 kms da etapa da
tarde. Assim, neste terceiro dia contabilizei 48 kms e a meio desta aventura
tinha já um acumulado de 169 kms, faltava quase outro tanto até chegar a
Santiago.
Neste albergue, encontrei três italianos que estavam
muito reservadamente a escrever, duas húngaras um bocadinho mais comunicativas
e dois polacos, estes sim muito extrovertidos, que fizeram questão de me
oferecer uma cerveja, depois de saber de onde vinha e qual a causa que me fazia
correr! Depois de tomar a cerveja com eles, disse-lhe que amanhã seria a minha
vez de pagar em Orense. Gargalhadas da parte deles, pois diziam que nem no dia
seguinte iriam chegar a Orense e isentaram-me desde logo de lhes oferecer a
cerveja!
Laza é uma terra pequena pelo que foi fácil arranjar
onde comer e em pouco tempo já estava no albergue a descansar. Sentia-me muito
bem, a jornada do dia foi relaxante, mas sabia que os dois próximos dias iriam
ser complicados - as distâncias iam aumentando e os percursos iriam ser muito
sinuosos.
Quinta-Feira,
23 de Agosto.
Às seis horas e meia, quando ainda era bem de noite,
fui acordado por um toque de telemóvel com o som harmonioso de sinos de igreja!
Os italianos tinham mesmo pinta de pessoas ligadas ao clero e que estavam a
peregrinar com muita devoção, sendo que o toque de telemóvel confirmou as
minhas suspeitas! Saíram os italianos, saíram as húngaras e só depois eu
fui preparar as minhas coisas para ir para o centro da aldeia, tomar o
pequeno-almoço e meter de novo as pernas ao caminho. Estava até de certa forma
relaxado, pois apesar da jornada do dia prometer dureza, a meteorologia
anunciava céu muito nublado, possibilidades de chuva e temperaturas na ordem
dos 20 graus, o que para mim era uma excelente notícia. Assim, quando abalei
faltava apenas um quarto de hora para as nove da manhã (obviamente pela hora
espanhola), que já tinha devidamente actualizado. Esta etapa tinha a extensão
de cerca de 33 kms e como o percurso iria ter um grau de dificuldade elevado
tinha estimado 5 horas para a concluir. Os primeiros kms são por pequenas
estradas de asfalto, mas a partir de Tamicelas as subidas com forte inclinação
começam a surgir, percorrendo caminhos similares a corta-fogos, com vistas
deslumbrantes sobre os vales - puro trail!
Ao passar numa terra de nome Albergaria é obrigatório
parar no Rincon del Peregrino, um
pequeno estabelecimento decorado com milhares de conchas de Santiago,
autografadas pelos romeiros que passam. O senhor Luís cumprimentou-me, demos
duas de treta de conversa, abasteci-me de água, ele carimbou-me a credencial e
passou-me para a mão uma concha e um marcador para eu rubricar. Além da
rubrica, desenhei o logótipo da Casa da Criança e escrevi CORRER PARA CRIANÇAS.
Este
gesto trouxe-me à memória a pequena Diana e como ela iria gostar daquelas
conchas e de fazer um desenho numa! Tirei duas fotos e fiz-me de novo
ao caminho, quando 300 metros mais à frente verifico que me tinha esquecido lá
do telemóvel, voltei para trás e ainda não tinha chegado, já o senhor Luís
estava a entrar para a sua velha Seat Terra para me alcançar e entregar-mo! O
caminho é solidário!
Com 15 kms nas pernas, no monte Talarino passo diante
da famosa cruz de madeira, que me era familiar das fotos dos meus amigos que
praticam BTT e que já tinham feito este percurso de bicicleta. Por volta dos 20
kms e dentro do tempo que tinha estipulado, chego a Vilar de Barrio, paro
apenas para carimbar a credencial no albergue desta localidade e sigo viagem.
Atravesso longos caminhos em terra batida, mas planos, até chegar a Bobadela e
antes de chegar a esta localidade ainda existem vestígios da calçada romana de
uma via que ligava Bracara Augusta (Braga) a Asturica Augusta (Astorga). A
partir daqui é um sobe e desce num piso onde existe muita pedra, muito bom para
treinar técnica de trail! Por fim, chego a Xunqueira
de Ambía, onde terminava a etapa da manhã, assinalando o meu cronómetro
32,5 kms e quatro horas e cinquenta minutos, portanto dentro do que tinha
delineado para esta etapa e sem grande desgaste físico, pois o tempo era ameno
e de feição para a corrida! “Dios, ayuda e Santiago Intercede!”
Xunqueira de
Ambía é uma bonita localidade com uma
igreja românica, mas que infelizmente estava fechada, pelo que só pude apreciar
o seu exterior. Tinha estipulado fazer uma paragem de três horas, que era mais
que suficiente para almoçar, descansar e abastecer-me do necessário para a
viagem até Orense. O objectivo era chegar a Orense por volta das nove horas da
noite, portanto com o dia a cair. Para cobrir os cerca de 20 kms que tinha para
fazer e analisando a altimetria do terreno, achava que iria precisar de umas
duas horas e meia, já entrando em regime de poupança para a difícil etapa que
me esperava no dia seguinte. Arranquei pouco passava das seis da tarde e como o
percurso era quase feito no alcatrão de estradas nacionais, recordei os longos
treinos que fazia na companhia dos meus amigos do N.A.T. (Núcleo de Atletismo
das Taipas), aquando da preparação das maratonas. Este percurso é aborrecido,
pois além do alcatrão, às portas de Orense atravessa-se um parque industrial,
onde o ruído e o barulho dos carros me incomodou solenemente, para quem gosta
de correr no silêncio da montanha, isto é uma tortura! Lembrei-me que a pequena Diana de
quem guardo a imagem de uma cara sorridente, que de vez em quando também é
capaz de fazer a sua birra! Já no interior da cidade vemo-nos forçados
a correr por cima de passeios e desviar de pessoas, além de identificar as
setas do caminho, o que faz com que seja uma tarefa mais complicada. Pelo meio
destas contrariedades lá cheguei a uma enorme rotunda, onde uma seta para
esquerda indicava o Caminho de Santiago e outra para a direita o albergue.
Parei ali! Contas feitas 21,3 kms, em pouco mais de duas horas e meia! Fui
caminhando seguindo as indicações do albergue, mas daquela rotunda até ao dito
cujo, ainda foi mais de 1 km numa avenida larga, muito movimentada e com uma
ligeira subida. A minha intenção era chegar ao albergue antes das nove, mas tal
não foi possível, só por volta das nove e um quarto é que estava lá. Ainda tive
que esperar uns 10 minutos pelo responsável do albergue para me carimbar a
credencial e indicar-me a camarata onde ia pernoitar. Fui jantar a um
restaurante por ali perto e tinha a esperança de encontrar um supermercado
ainda aberto para comprar uns cereais para o pequeno- almoço do dia seguinte,
pois precisava de algo muito nutritivo para enfrentar a dura jornada que me
esperava. Vi uma farmácia aberta e por sorte, além dos cereais para crianças,
tinham também para venda uma gama destes produtos para adultos. Escolhi uns à
base de aveia que eu tanto gosto e muito energéticos. Mais uma vez D.A.Y.S.I! Jantei salada de tomate,
esparguete com um bife de boi e às dez e meia já estava a entrar no albergue.
Na cozinha encontrei o Rodrigo que estava a preparar
umas coisas para comer - um andaluz que já estava a fazer a via da prata há 25
dias. Ele perguntou-me de onde eu vinha e lá lhe estive a explicar que estava a
fazer o caminho a correr e a causa pela qual o fazia. Felicitou-me e deu-me os
parabéns, além de elogiar a minha condição física para fazer tantos kms por
dia! Sinceramente, gostei de ouvir! A jornada seguinte ia ser dura e receber
uma dose de moral nunca fez mal a ninguém!
Sexta-Feira,
dia 24 de Agosto.
Esta era a jornada em que eu estimava que iria precisar de umas nove horas de corrida para chegar ao destino – Silleda. Sendo que a etapa da manhã, com uma extensão de aproximadamente 38 kms eram quase na
totalidade feitos a subir! Acordei cedo, como de costume e preparei uma papa
com os cereais comprados na véspera, aos quais adicionei água quente. Comi duas
tigelas bem cheias e ainda duas bananas que tinha trazido da noite anterior do
restaurante. Equipei-me e fui descendo a avenida até à rotunda que tinha a
indicação do Caminho de Santiago. Tomei um café e às oito horas estava de partida.
O céu estava carregado de nuvens, não havia sinais de sol e a temperatura era
muito agradável para correr. Os primeiros 2 kms, ainda dentro de Orense, foram
bastante agradáveis, mas depois de passar a ponte romana sobre o rio Minho, e à
medida que a cidade ficava para trás, começou uma verdadeira escalada de 3 kms
que até a caminhar custava…19% de inclinação! Chamavam a isto o Caminho Real -
foi na verdade uma real estopada! Fui correndo quando podia e caminhando quando
me deparava com pendientes muy fuertes.
No entanto a paisagem era agradável por entre um bosque de carvalhos e castanheiros. Cerca dos 14/15 kms aparece a aldeia de Bouzas e onde me detive na parada do peregrino.
No entanto a paisagem era agradável por entre um bosque de carvalhos e castanheiros. Cerca dos 14/15 kms aparece a aldeia de Bouzas e onde me detive na parada do peregrino.
Subi umas escadas e escutei uma voz que dizia: “Viene un portugués corriendo! Apareci de repente e exclamei: “Sou
eu!!!!” Era o Rodrigo que estava a comentar com o senhor Gonzalez! O Rodrigo
fez umas fotos comigo, bebi dois goles de água, abasteci os cantis e fiz-me de
novo ao caminho que ainda tinha muito que palmilhar! Em duas horas e quinze
tinha apanhado o Rodrigo que tinha saído ainda de noite, hora e meia antes de
mim - nada mau! As dificuldades continuaram porque as subidas eram uma
constante, mas lá fui seguindo num ritmo confortável. Entretanto começa a
chuviscar - primeiro até achei que tinha sido uma bênção, mas quando a chuva
começou a engrossar e eu a ficar molhado, sentindo algum frio próprio da
montanha e a constatar que a roupa que trazia na mochila também ia ficar
molhada, não considerei que tenha sido uma graça dos deuses. Neste momento
lembrei-me de uma expressão que relembro aos meus companheiros quando estes se
escusam de correr à chuva – Chuva é vitamina para atleta! Saltou-me mais uma vez à memória
a pequena Diana e pensei se ela gostaria de apanhar chuva nos seus caracóis!
Pareceu-me que a ouvi dizer que sim! Engolindo os kms como podia e
moralizado por estes pensamentos cheguei a San Cristovo de Cea, encharcado pela
chuva, mas com a alma lavada! Fiz uma ligeira pausa no albergue, apenas para
carimbar a credencial e imediatamente meti as pernas ao caminho, pois não
queria arrefecer! Faltavam cerca de 14 kms para Dozon, mas atendendo às
dificuldades climatéricas que entretanto foram molhando as pedras do caminho e
tornando-o escorregadio e à altimetria do percurso, calculei que iria precisar
de umas duas horas. Continuei por entre bosques de carvalhos e castanheiros,
nos quais as folhas iam caindo com o vento que de vez em quando soprava, a
chuva entrou num regime de bátegas não muito fortes e por fim lá cheguei a
Castro Dozon, depois de ter esbichado 37 kms, duros e molhados, em cinco horas
e quarenta e cinco minutos!
Naquele instante não chovia, mas o céu estava com
nuvens muito carregadas. Fiz uma pausa de duas horas e meia, tempo suficiente
para comer, tentar secar a roupa e descansar um pouco. Dozon é uma localidade
pequena, pelo que depois de carimbada a credencial no albergue e de ter tirado
a foto da praxe, fui ao único café que havia na localidade - o Café Bar Anton.
A cozinha estava prestes a fechar, mas a menina ainda me arranjou uma sopa
quente e um esparguete com carne. Curiosamente, não estava com muita fome, pois
as barras e os geles energéticos que fui ingerindo ao longo da etapa tinham-me
saciado. Assim, estava mais interessado em secar a roupa, pelo que me fechei na
casa de banho e naqueles secadores de mãos fui secando pacientemente as peças
de roupa que estavam bastante húmidas. Entretanto recomeçou a chover e a hora
de eu abalar aproximava-se! Resguardei conforme pude as peças de roupa já quase
secas em sacos de plástico dentro da mochila e fiz-me ao caminho com uma chuva
miudinha. Eram cinco da tarde e eu estimava que precisaria de umas quatro horas
para engolir os 27 kms que faltavam até Silleda, ou seja, se tudo corresse bem
chegaria com a noite a cair. Grande parte do trajecto alternava entre o asfalto
com caminhos rurais, num constante sobe e desce. No asfalto, e com chuva a cair
com mais intensidade, imprimi um ritmo mais forte, como querendo fugir dela!
Mas, nos caminhos onde as pedras milenares gastas pela passagem dos peregrinos
estavam escorregadias, teria de ter cuidados redobrados e abrandar
drasticamente o ritmo. Com 15 kms e uma hora e cinquenta de corrida entrei no
albergue de Lalin, aonde estavam dois jovens polacos que ali iam pernoitar. Ficaram
atónitos a olhar para mim quando eu lhes disse que vinha de Orense e estava
determinado a dentro de duas horas estar em Silleda. Carimbei a credencial,
abasteci-me de água, os polacos desejaram-me – Bom Camino! – e eu abalei para
os derradeiros 12 kms que me faltavam para completar esta longa jornada! A
paisagem por estas bandas era maravilhosa, mas o cinzento do dia retirava-lhe o
brilho. Ao passar em Taboada, e depois de atravessar a ponte romana sobre o rio
Deza, tive que dominar com mestria a calçada romana que se apresentava muito
escorregadia, para evitar deslizes! Assim, fui saltando de pedra em pedra, procurando
sempre firmar os pés nas mais secas. A pequena Diana voltou à minha cabeça,
imaginando-o também saltar graciosamente de pedra em pedra, como uma borboleta
de nenúfar em nenúfar. Finalmente, estava em Silleda, após três horas e
quarenta e cinco minutos e 27 kms. A jornada rendeu 65 kms em nove horas e
meia. Um adolescente que passava com a mãe tirou-me a fotografia do costume e
indicou-me que havia ali uma albergaria na rua do lado. Entrei na Albergaria
Marill, a senhora que me atendeu perguntou-me de onde eu tinha partido, ao que
lhe respondi que vinha de Orense!
- Bien, vai a guardar la bici, que luego te doy la
clave de una habitácion e te preparo algo para comer!!
- Mas eu não vim de bici, vim a pé!
- Por Dios! No me lo creeo…
- Bem, vim a pé, mas a correr quando podia e a
caminhar nos sítios em que as subidas eram muito acentuadas - tentei explicar.
Entretanto, reparei que estavam três cilcistas a comer, pararam para escutar este diálogo e revelar um certo ar de espanto!
- Mira, yo ya me quedo por aqui a muchos
años, pêro ninguno habia llegado a pie, desde Orense hasta Silleda!
Como tinha as roupas bastante húmidas a senhora emprestou-me uma camisola, tomei um banho e depois de jantar, aterrei na cama, mas antes de adormecer ainda fiz as seguintes contas: 5 dias - 287,5 kms! Estou a escassos 40 kms da catedral!
D.A.Y.S.I. - seguramente estarei lá amanhã!
Sábado, 25 de Agosto.
Descansei bem e não precisei de acordar muito cedo. Fisicamente sentia-me quase como se estivesse a começar esta peregrinação e com a imponência da catedral no horizonte, estava muito moralizado! Tinha delineado correr umas três horas de manhã e outras três horas de tarde e isto era mais que suficiente para cumprir os 42 kms que me separavam da Santiago. Assim, tomei o pequeno-almoço muito calmamente e pouco passava das nove horas da manhã estava preparado para a jornada final. O sol brilhava, foi rompendo as nuvens como querendo iluminar o meu dia de glória! Saindo de Silleda até Bandeira o caminho segue por campos ladeados de riachos. Corria alegremente, cheguei até a assobiar respondendo ao canto dos pássaros. Depois, entrei numa estrada em asfalto com uma descida muito acentuada de 5 kms, pouco antes de chegar a Ponte Ulla, local onde inicialmente estava pensado fazer uma pausa para o almoço. Junto à igreja de Santa Maria Madaglena, tinha uma padaria na qual entrei. Com 21 km em apenas duas horas e cinquenta, perguntei à senhora que estava a servir, se em Outeiro, a próxima localidade, existia algum sitio onde se pudesse comer. A senhora disse-me que sim. Pedi-lhe para me carimbar a credencial e comprei-lhe um croissant. Resolvi prolongar a etapa em mais 4 kms, até Outeiro. Segui pelo caminho, a correr lentamente enquanto dava umas mordidas no croissant! Voltei a lembrar-me da pequena Diana e a imaginar que ela devia gostar de croissants!!! Sem quase dar conta, cheguei a Outeiro e ao albergue, com 25 kms e cerca de três horas e meia a dar à perna. A dona Maria, hospitaleira do albergue, recebeu-me lindamente, preparou-me um delicioso esparguete à bolonhesa, ao qual eu reguei com uma estrella galicia fresquinha! Depois do repasto estive por ali à conversa com uns ciclistas que entretanto chegaram e com o Walter um sociólogo austríaco aposentado, que há mais de 30 dias que caminhava pela Via da Prata e que falava português fluentemente. Perguntei-lhe como aprendeu a falar português, ele rematou com um lapidar: Aprendi, aprendendo!
Hay 17 kms a la catedral, 15 kms para llegar a Santiago! Garantiu a dona Maria que já tinha feito esse caminho a pé diversas vezes. Escutando o que ela dizia acerca do percurso pareceu-me razoável que demoraria entre duas horas e quinze e duas horas e meia a chegar lá. Assim, pelas cinco horas ia lançar-me para a etapa final. Estava já preparado para partir quando o marido da Dona Maria disse que ia ligar para a Guardia Civil pois estava um tipo sentado junto à entrada do albergue, com um aspecto duvidoso e que há mais de uma hora obervava as bicicletas, para ver se podia dia roubar alguma coisa! Sinceramente, eu nem me tinha apercebido do caso. Entretanto o tipo, que também estava de bicicleta, pirou-se pelo caminho! Aconselharam-me a esperar um pouco! Mas, estava na hora de partir e eu disse que não tinha medo, já tinha feito 320 kms sozinho por montes e vales e agora às portas de Santiago não ia esmorecer! O marido da dona Maria disse que ia de carro uns 3 kms até uma povoação e depois voltava para trás para ver se conseguia saber aonde o tipo estava, podendo então partir em segurança. Eu disse-lhe que não era preciso, mas ele insistiu e também tive que prometer à dona Maria que assim que chegasse a uma localidade de nome A Susana, que era a uns 7 kms dali, que lhe ligava! Após estas peripécias lá meti as pernas ao caminho. Corria a bom ritmo, pelo que volvidos 2 kms, o marido da dona Maria que entretanto regressava de carro, disse que o rapaz tinha desaparecido pela estrada nacional. O ritmo foi aumentando gradualmente, bem mais forte que nos dos dias anteriores. A ânsia de estar próximo do final, liberta a mente, solta o corpo e as pernas ficam mais ligeiras. Alcancei a localidade A Susana e olhei para o meu cronómetro que marcava 42 minutos, abrandei o ritmo, mas sem parar, liguei à senhora do albergue:
Dona Maria, já estou em A Susana!
Graças a Dios! Pero tu volar, José!
Passados mais alguns minutos por entre o arvoredo vislumbro a ponta das torres da catedral! A partir daí a emoção toma conta de mim e vou subindo e descendo o caminho sem dificuldades, os olhos iam na ponta das sapatilhas, porque no cérebro passavam fotogramas do caminho a um ritmo alucinante. Chego à cidade e com a fralda da Casa da Criança esvoaçar na mão, num último fôlego antes de entrar no centro histórico enfrento a subida empinada da rua de Castrón Douro e as lágrimas começam a escorrer-me pela face. Finalmente, entro no Obradoiro, dou uma volta completa à praça, subo as escadas da catedral por um lado e desço pelo outro e…paro! Sou invadido por um estranho sentimento: frustração e satisfação! Por um lado a tristeza de ter terminado, por outro a alegria de ter cumprido a missão com êxito! Lanço um olhar sobre a praça e pela multidão que por ali se movimenta. Vejo uma criança a correr para os pais! Com os olhos em água esbocei um sorriso e tive a visão que a pequena Diana corria na minha direcção, que a abracei e lhe sussurrei ao ouvido:
Tu és a menina mais bonita do mundo!
A dona Maria não me tinha enganado, foram 17,1 kms corridos em uma hora e cinquenta e seis minutos. Pedi a uns portugueses para me tirar umas fotos e à medida que lhes ia explicando que corri desde Guimarães até Santiago, 330 kms em 6 dias - por uma causa, começaram a espalhar a notícia pelo grupo e a tecerem-me rasgados elogios! Dirigi-me à Oficina do peregrino para receber a Compostela e retirei-me para o Hospedaria San Martin Pinario – Seminario Mayor aonde ia pernoitar. Estava muito leve, calmo e com uma enorme paz interior! Depois do duche fui ao Monolo na praça Cervantes comer um caldo galego, uma massa com frutos do mar e a tradicional tarte de santiago. Bebi duas canhas e regressei à hospedaria. Deitado sobre a cama, adormeci a imaginar esta longa-metragem, que julgava ter acabado por aqui, mas afinal não…
Domingo, 26 de Agosto.
Domingo, 26 de Agosto.
Levantei-me às nove horas e depois de um excelente pequeno-almoço na hospedaria, vim caminhar para as ruas e praças das imediações da catedral. Além de aproveitar o belo dia de sol, fazia também um bocadinho descompressão muscular. Apesar de não ser um católico de muito prática, gosto de assistir à missa do peregrino ao meio-dia. No final da eucaristia ia haver a cerimónia do botafumeiro, portanto fui cedo para a catedral e coloquei-me na primeira fila da nave lateral do altar maior, que segundo informações, era o melhor lugar para assistir ao movimento pendular do grande incensário a espalhar o perfume. Permaneci ali sentado em silêncio. Ora observava a beleza arquitectónica da catedral ou a constante chegada de peregrinos, em larga maioria jovens que davam um colorido e criavam uma atmosfera muito positiva no interior do templo. Enquanto decorria a missa, pensei no quanto eu gostava de ter a assinatura do sacerdote que celebrava a eucarística, na fralda da Casa da Criança, que orgulhosamente levava comigo! No altar, em redor do eclesiástico principal estavam mais de uma dúzia de padres de diversos países, entre os quais um português, que eu fixei aquando da liturgia proferida por ele em língua portuguesa. Terminada a missa e a bonita cerimónia do botafumeiro, vi todos os sacerdotes a entrar para a sacristia, que por mera casualidade era a dois passos de onde eu me encontrava. Dirigi-me para a porta e esperei que o padre português saísse. Interpelei-o acerca da possibilidade de o sacerdote principal poder assinar a fralda. Simpaticamente, disse-me que não tinha confiança com ele e que veio também como peregrino, que celebrou a missa porque é um dever de conduta sacerdotal. Enquanto eu mantinha este pequeno diálogo, um senhor com idade de respeito, escutou a conversa perguntou-me de onde eu era.
Sou de Guimarães!
Sou de Guimarães!
Lá perto tem um santo que sou muito devoto!
Qual é o santo?
É o S. Torcato!
Este senhor era o mesmo que na hora do ofertório pedia com um saco e ostentava o traje compostelano grená. O senhor Adriano chegou a Santiago há 30 anos, proveniente de Matosinhos e ajudava nas tarefas religiosas da catedral desde essa data. Disponibilizou-se para me ajudar a obter a assinatura do sacerdote - Dom José Maria. Mandou-me entrar para o hall da sacristia e passados alguns minutos eu já tinha a almejada assinatura. Assim, através desta alma boa, o Deão, responsável máximo da Catedral de Santiago de Compostela, assinou a fralda por cima do logotipo da Casa da Criança de
Guimarães. Quando estava preparado para me despedir do senhor Adriano, ele perguntou-me:
Já foi dar um abraço a Santiago?
Ainda não senhor Adriano!A fila é enorme e eu tenho de apanhar transporte para casa!
Qual é o santo?
É o S. Torcato!
Este senhor era o mesmo que na hora do ofertório pedia com um saco e ostentava o traje compostelano grená. O senhor Adriano chegou a Santiago há 30 anos, proveniente de Matosinhos e ajudava nas tarefas religiosas da catedral desde essa data. Disponibilizou-se para me ajudar a obter a assinatura do sacerdote - Dom José Maria. Mandou-me entrar para o hall da sacristia e passados alguns minutos eu já tinha a almejada assinatura. Assim, através desta alma boa, o Deão, responsável máximo da Catedral de Santiago de Compostela, assinou a fralda por cima do logotipo da Casa da Criança de
Guimarães. Quando estava preparado para me despedir do senhor Adriano, ele perguntou-me:
Já foi dar um abraço a Santiago?
Ainda não senhor Adriano!A fila é enorme e eu tenho de apanhar transporte para casa!
Espere aqui um bocadinho. Disse calmamente.
Entrou na sacristia e saiu com a indumentária vestida, agarrou-me pela mão e encaminhou-me por uma cancela que abriu com uma chave. Naquele momento pela mão do ancião, senti-me como se fosse a pequena Diana pela mão de um pai que provavelmente nunca teve - subi um pequeno lanço de escadas e em poucos segundos estava junto do apóstolo Tiago para lhe dar um profundo abraço. Despedi-me e agradeci ao senhor Adriano esta enorme graça que teve comigo. Ele apenas disse:
Se puder, passe em S. Torcato e peça ao santo pelo Adriano!
Curiosa atitude! Um homem, que praticamente vive numa catedral de grande devoção, pede-me para ser seu mensageiro e ir S. Torcato rogar que o santo o ajude! Obviamente, que já cumpri este pedido!
Obrigado à corrida por ter moldado na minha personalidade um carácter muito mais humanista!
Obrigado às crianças da Casas da Criança de Guimarães por me terem motivado a realizar esta aventura!
Obrigado à pequena Diana, minha fiel companheira nesta maravilhosa viagem que jamais esquecerei!
Entrou na sacristia e saiu com a indumentária vestida, agarrou-me pela mão e encaminhou-me por uma cancela que abriu com uma chave. Naquele momento pela mão do ancião, senti-me como se fosse a pequena Diana pela mão de um pai que provavelmente nunca teve - subi um pequeno lanço de escadas e em poucos segundos estava junto do apóstolo Tiago para lhe dar um profundo abraço. Despedi-me e agradeci ao senhor Adriano esta enorme graça que teve comigo. Ele apenas disse:
Se puder, passe em S. Torcato e peça ao santo pelo Adriano!
Curiosa atitude! Um homem, que praticamente vive numa catedral de grande devoção, pede-me para ser seu mensageiro e ir S. Torcato rogar que o santo o ajude! Obviamente, que já cumpri este pedido!
Obrigado à corrida por ter moldado na minha personalidade um carácter muito mais humanista!
Obrigado às crianças da Casas da Criança de Guimarães por me terem motivado a realizar esta aventura!
Obrigado à pequena Diana, minha fiel companheira nesta maravilhosa viagem que jamais esquecerei!
“D.A.Y.S.I. (Dios Ayuda Y Santiago Intercede)”
“Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho."
NOTAS:
- A pequena Diana existe, no entanto o seu nome é fictício;- Neste momento a campanha de angariação de fundos vai em 1.219,9 €;
- Quem quiser ajudar a Casa da Criança de Guimarães pode fazê-lo através do NIB 0035 0363 00099924330 94;
- A viagem custou 270,0 € e eu doei à Casa da Criança 329,9 €.
José Capela
Josephum Capela
Josephum Capela